O RITO DA IMPOSIÇÃO DE MÃOS


Ao longo de toda a história do Antigo Testamento, a imposição de mãos era um método comum de ordenação e investidura num ofício.

No Novo Testamento temos registrados quatro tipos de “imposição de mãos”. (1) Por meio do próprio Cristo expressando autoridade ao orar e abençoar (Mateus 19.15; Marcos 10.16). (2) Na cura de doenças (Marcos 16.18; Atos 28.8). (3) Na concessão dos dons extraordinários e miraculosos do Espírito Santo (Atos 8.17; 19.6). (4) Na solene consagração de homens separados para o ofício na igreja — sem transmissão de dons miraculosos (Atos 6.6; 13.3; 1 Timóteo 4.14). Hebreus 6.2 provavelmente pertence a (3) ou (4).

A ORIGEM DA IMPOSIÇÃO DE MÃOS DO ANTIGO TESTAMENTO

A “mão” tem um significado simbólico na Bíblia. É um símbolo de poder ou de ação; assim, falar da “mão” do Senhor, é falar sobre seu poder de abençoar ou amaldiçoar (1 Reis 11.26; Êxodo 9.33; Salmo 28.2; Gênesis 48.13-14). Na imposição de mãos do presbitério, três verdades são simbolizadas: (1) As mãos do presbitério devem ser consideradas como as mãos de Deus. Assim como o primogênito em Israel pertencia totalmente ao Senhor e tinha de ser “redimido” de toda uma vida de serviços sacerdotais pela substituição de um levita totalmente dedicado ao Senhor (Êxodo 13.2; 11-13; Números 8.9-19), assim também as mãos do presbitério representam a mão do Senhor consagrando a pessoa ordenada ao total serviço da missão e ofício ao qual o Senhor a chamou. (2) As mãos do presbitério também devem ser consideradas as mãos da igreja. Assim como os levitas impunham as mãos sobre os animais sacrificados simbolizando uma identificação completa com o povo da aliança e com o sacrifício por meio das mãos dos seus representantes levitas, assim também a imposição de mãos demonstra nossa aceitação da expiação de Cristo como a nossa salvação e a nossa total consagração para o Senhor, seja qual for o nosso chamado.

A consagração de homens ordenados simboliza a consagração de todo o povo de Deus como na ordem simbólica a respeito do primogênito ou levita para o total serviço de Deus. E assim como os líderes de Israel representavam Israel por meio da imposição de mãos, assim também Paulo, em 1 Timóteo 4.14, fala sobre a imposição de mãos do presbitério. Os que impõem suas mãos sobre o representante ordenado do povo compromete o povo com servir a Deus por meio daquele que foi escolhido e chamado. (3) Aqueles sobre os quais as mãos foram impostas não pertencem aos membros da igreja, mas ao Senhor da igreja. Como Deus disse no Antigo Testamento, em Números 3.12: “os levitas serão meus”. Portanto, uma vez que os levitas eram substitutos do povo da aliança, os próprios membros da igreja pertencem não a si mesmos, mas ao Senhor, e a ordenação dos oficiais com a imposição das mãos é um ritual que testemunha esse fato.

Se negamos o significado da imposição de mãos do Antigo Testamento, então retornamos ao clero como uma classe profissional que não tem uma relação essencial com o povo, exceto para servir quando a necessidade surgir. Se aceitamos o sentido do Antigo Testamento, então temos um corpo de crentes que possuem uma vida comum em Cristo como o seu cabeça, e os presbíteros ou bispos como seus representantes, instrutores, exemplos e líderes no serviço do rei e no trabalho de sua família.

Em 1 Timóteo 4.14, lemos a exortação de Paulo a Timóteo: “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério”. Nesse versículo, há quatro elementos que precisamos considerar: (1) O ofício para o qual Timóteo foi ordenado era provavelmente o ofício de evangelista, tornando-se, então, colaborador de Paulo, viajando de um país a outro e de uma cidade a outra pregando o evangelho e plantando igrejas. (2) Timóteo foi ordenado com a imposição de mãos pelo presbitério, i.e., os presbíteros da igreja em sua qualidade associativa. (3) Timóteo foi objeto de profecias antes de sua ordenação (1 Timóteo 1.18). (4) Um dom espiritual foi concedido a Timóteo ou reconhecido como estando em Timóteo na sua ordenação, dom em relação ao qual ele foi exortado a não negligenciar.

O que era esse dom espiritual, ou graciosa dádiva, i.e., charisma, em grego, concedido a Timóteo na ou por meio da sua ordenação? O contexto sugere que era um dom vinculado ao seu ofício, destinado a fazê-lo mais eficaz nesse ofício, dado como um sinal do favor de Deus. Em 1 Timóteo 4.13 Paulo exorta Timóteo: “aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino”. Então, imediatamente, no versículo 14 acrescenta: “Não te faças negligente para com o dom que há em ti”. A conexão próxima entre essas duas exortações de Paulo nos leva a crer que o dom gracioso era o dom da exortação e do ensino. Em 2 Timóteo 1.6, Paulo diz a Timóteo: “… que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos”. Esse texto não contém nada que possa levar-nos a crer que Paulo estivesse se referindo à ordenação de Timóteo. Em primeiro lugar, Timóteo 4.14 fala de imposição de mãos do presbitério, enquanto em 2 Timóteo 1.6, Paulo fala da imposição de minhas mãos. Era uma prática comum dos apóstolos impor as mãos sobre os crentes para conceder-lhes dons espirituais (Atos 8.17; 19.6). Além disso, o dom que deveria ser reavivado ou reascendido, i.e., instigado com mais fervor e vigor, como a fé de sua mãe e da avó, era algo pessoal e moral (2 Timóteo 1.5).

Um homem pode muito bem ser chamado, de forma justa, a não “negligenciar” um dom necessário à realização dos deveres do seu ofício e que esteja certo de desenvolver por meio do exercício; porém ele mal poderia esperar ser chamado a “reavivar-se”. Essa linguagem seria mais adequada no caso de algum charisma (dom) particular, associado aos sentidos pessoais ou experiências. Se ambos os dons tivessem sido concedidos simultaneamente e no mesmo local, seria difícil para Timóteo fazer distinção entre eles e dizer qual deveria ser “reavivado” e qual “não negligenciado”. ― É mais natural supor que o apóstolo faz alusão a diferentes operações que ocorreram em momentos diferentes. Em um dos exemplos, 2 Timóteo 1.6, um dom pessoal do Espírito foi concedido por Deus a Timóteo pela instrumentalidade (dia é a preposição grega) de Paulo; o no outro exemplo, 1 Timóteo 4.14, um dom relacionado ao seu ofício de evangelista foi dado por Deus simultaneamente (meta é a preposição grega) à imposição de mãos do presbitério. “Um presbitério não teria razão de impor as mãos exceto para conferir um ofício eclesiástico; mas um apóstolo muitas vezes impunha as mãos sobre pessoas não designadas para ofícios da igreja, e às quais nada exceto um dom espiritual era concedido. ”

Esse “dom especial concedido pelo Espírito divino no momento da sua ordenação retirou qualquer possível objeção à designação de um homem tão jovem, e pôs em seu poder um proveitoso instrumento que ele não poderia deixar enferrujar-se por negligência de exercício. ― Enquanto o presbitério, com a imposição de mãos, o admitia no ofício, o Espírito Santo concedia-lhe os dons necessários para fazê-lo útil no ofício para o qual fora designado”. O que podemos concluir a partir de 1 Timóteo 1.13-14 tendo em vista a ordenação como um meio de graça? A ordenação não confere o Espírito Santo nem comunica, ex opera operato, dons graciosos do Espírito Santo, embora a Deus agrade concedê-los a seus servos em sua ordenação, com o fim de qualificá-los para o serviço efetivo dos ofícios para os quais estão sendo ordenados na ocasião. Além disso, a imposição de mãos do presbitério, sendo a investidura oficial das pessoas ordenadas no ofício, proporciona-lhes a plena autoridade eclesiástica de Cristo para o encargo de todas as funções desse ofício.

“Atrás da ordenação está o chamado de Deus que faz um verdadeiro ministro, mas a investidura pública no ofício, e os direitos de exercer seus deveres, são concedidos na ordem divina da ordenação. ― ‘Ordenação’, diz (Robert) Baylie (delegado escocês da Assembleia de Westminster), “é um ato de jurisdição, é uma missão com autoridade, e introdução de um homem no exercício de um ofício espiritual. ” E como James Bannerman corretamente afirmou sobre a visão presbiteriana da imposição de mãos:

... para ser exato, os presbiterianos não afirmam que existe alguma promessa especial ligada à oração de ordenação, porém afirmam que há promessas especiais e graça especial ligadas ao ofício do ministério (ou do presbiterato), e com admissão ao ofício do ministério; e quando a Igreja, em acordo com a vontade do seu divino cabeça, admite por meio da ordenação, que o indivíduo seja separado para exercer suas obrigações, e quando todos os grupos se empenham na obra com uma correta disposição mental, ali e naquela ocasião a oração da Igreja fará que se cumpra a promessa especial e a graça especial apropriada à ocasião. Se o ministério (ou o presbiterato) é uma função indicada por Cristo, e se a admissão a essa função por meio da ordenação também é uma indicação de Cristo, então essas ordenanças não deixarão de receber a bênção de Cristo. Se é uma indicação de Deus, e se é feita com o espírito correto, o ato de ordenação pela igreja não deixará de contar com a presença e a paz de Cristo, reconhecendo sua própria instituição e abençoando sua própria ordenança.

  
Autores: W. Gary Crampton e Richard  E. Bacon

Trecho extraído do livro Edificados sobre a Rocha: um estudo da doutrina da igreja. Editora: Monergismo.
Originalmente postado aqui.

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