"NEC TAMEN CONSUMEBATUR"
Vitral alusivo a Êxodo 3, a Teofania da Sarça Ardente. |
A sarça ardente tem sido o símbolo popular entre as igrejas reformadas ao redor do mundo. Os huguenotes franceses[1] em 1583 foram os primeiros a usá-la como símbolo, juntamente com o moto “flagror non consumor”. Mas foi na Escócia que o símbolo ganhou maior visibilidade, quando usado em 1691, depois das intensas disputas entre a monarquia e os aliancistas, juntamente com o moto latim “nec tamen consumebatur” – “queimava e não se consumia”.
Este dizer é uma
referência ao episódio relatado no livro de Êxodo, no capítulo 3, quando Moisés
encontrou uma sarça (arbusto, espinheiro) que ardia em chamas, mas que não era
consumida pelo fogo. O Anjo do Senhor apareceu nas chamas de fogo, no meio da sarça.
Em primeiro lugar, asseverou sobre a santidade do lugar em que Moisés estava,
pois estava na presença de Deus. Em segundo lugar, revelou sua identidade: “Eu
sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (v.
6); Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus. Em terceiro lugar, o
Senhor revelou o propósito deste encontro inesperado, a libertação do seu povo,
que estava sendo afligido por séculos no Egito e clamava a Deus por causa deste
sofrimento.
É sugerido que os grupos
reformados passaram a utilizar a sarça ardente como emblema, numa referência às
grandes lutas que a Igreja passava a fim de resgatar os ensinamentos de Cristo
e dos apóstolos. No séc. XVI, João Calvino entendeu o relato da sarça ardente
como uma representação do povo de Deus, da Igreja que sofre em qualquer era ou
lugar, mas sob a qual nem mesmo os portões do inferno podem prevalecer.
Em seu comentário aos
livros de Moisés, Calvino escreveu: “A sarça é como as pessoas humildes e
desprezadas; a opressão tirânica delas não é diferente do fogo que as teria
consumido, se Deus não tivesse miraculosamente se interposto. Assim, pela
presença de Deus, a sarça escapou segura do fogo; como é dito no Salmo 46, que
embora as ondas de problemas batam contra a Igreja e ameacem a sua destruição,
‘não será abalada’, pois ‘Deus nela está’. Embora as pessoas cruelmente
afligidas estejam apropriadamente representadas, aquelas que, apesar de
cercadas pelas chamas e sentindo o seu ardor, permanecerem sem consumir-se, é
porque foram guardadas pelo presente auxílio de Deus” (John Calvin, p. 62).
Entretanto, o fogo também é o sinal da
presença de Deus, que é fogo consumidor (Hb
12.29). O milagre aponta para outro milagre ainda maior: Deus, por sua
graça, está com o povo da sua aliança, de forma que eles não são consumidos.
Assim como na época da
Reforma e em tantos outros momentos da História, no presente momento a Igreja
enfrenta desafios complexos. De um lado, os militantes do Neo-ateísmo com suas
críticas materialistas ácidas e os profetas do subjetivismo; do outro lado, as
loucuras dos evangélicos, a teologia da prosperidade, o cristianismo emocional
e pragmático sem Cristo e a Cruz; sem falar da teologia liberal, e das milhares
de outras tendências filosóficas com cheiro de superioridade.
Tudo isso nos faria
desesperar e desacreditar do futuro da Igreja. No entanto, quem sustenta a
Igreja é Cristo, o verbo divino, pelo qual tudo veio a existir (Jo 1:10). Ele mesmo afirmou que as
portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja (Mt 16:18). Portanto,
estamos seguros naquele que é o cabeça da Igreja. O símbolo da sarça continua
sendo usado para nos lembrar que mesmo em meio às maiores aflições e
dificuldades, a Igreja permanecerá de pé, pela graça de Deus, aguardando o
retorno do seu Senhor.
“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre
esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela” – Mateus 16:18.
Logo antigo da Church of Scotland (Igreja da Escócia) e atual da Igreja Presbiteriana do Brasil.
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Fonte:
Diário Reformado.
[1] Nota do blog: Huguenotes era o nome dado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas na França (segunda metade do século XVI). Cerca de 300.000 deles deixaram a França, após as dragonnades (perseguições contra as comunidades protestantes, sob Luís XIV) e a revogação do Édito de Nantes, em 18 de outubro de 1685. Eram majoritariamente calvinistas e membros da Igreja Reformada. A origem do termo é controversa. Uma das hipóteses é que tenha sido criado pelos franceses, em alusão a Hugues Besançon, líder político suíço, que chefiava o partido pró-independência de Genebra, hostil a Carlos III, duque de Savoia. O biógrafo de Calvino, Bernard Cottret, afirma que "huguenote" vem de "confederados" (em francês "Eidguenot", derivado do suíço-alemão Eidgenossen, termo que designava as cidades e cantões helvéticos partidários da Reforma). Na Genebra do século XVI havia uma rivalidade interna entre os "mamelucos", que eram conservadores e se orientavam favoravelmente ao Ducado de Saboia, e os "confederados" ou Eidguenotes, que eram mais progressistas e enveredaram pelo protestantismo (Wikipedia). Para mais informações, veja: História do Movimento Reformado: A Igreja Reformada da França.
[1] Nota do blog: Huguenotes era o nome dado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas na França (segunda metade do século XVI). Cerca de 300.000 deles deixaram a França, após as dragonnades (perseguições contra as comunidades protestantes, sob Luís XIV) e a revogação do Édito de Nantes, em 18 de outubro de 1685. Eram majoritariamente calvinistas e membros da Igreja Reformada. A origem do termo é controversa. Uma das hipóteses é que tenha sido criado pelos franceses, em alusão a Hugues Besançon, líder político suíço, que chefiava o partido pró-independência de Genebra, hostil a Carlos III, duque de Savoia. O biógrafo de Calvino, Bernard Cottret, afirma que "huguenote" vem de "confederados" (em francês "Eidguenot", derivado do suíço-alemão Eidgenossen, termo que designava as cidades e cantões helvéticos partidários da Reforma). Na Genebra do século XVI havia uma rivalidade interna entre os "mamelucos", que eram conservadores e se orientavam favoravelmente ao Ducado de Saboia, e os "confederados" ou Eidguenotes, que eram mais progressistas e enveredaram pelo protestantismo (Wikipedia). Para mais informações, veja: História do Movimento Reformado: A Igreja Reformada da França.
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