NADA ALÉM DO EVANGELHO: A Importância do Sermão Expositivo



Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado
. (1 Coríntios 2.2)

Um dos maiores desafios em meu ministério foi e continua sendo entender e esforçar-me na pregação do sermão expositivo. Não por modismo, ou por ser aceito "em uma casta defensora" do mesmo, mas por perceber que é o método homilético que mais prioriza em ser fiel ao texto e entregá-lo como ele (o texto) deve ser recebido: Palavra de Deus. Penso que cada vez mais, membros de ‘nossas’ igrejas precisam atinar para essa realidade e encorajar amorosamente seus pastores a esforçarem-se em pregar expositivamente. Chega de querer ensinar a igreja a "derrotar seus gigantes" ao pregar em 1 Samuel 17. A pretexto de "contextualização" e de "melhor comunicação", reduz-se o Evangelho a princípios meramente éticos, quando não moralizantes e até legalistas. Sermões biográficos que apresentam a vida de personagens bíblicos e que acabam enfocando mais as personagens que o Deus que as usou, abençoou, corrigiu, etc. Divagações a perder de vista, com o texto servindo apenas como suporte. Não deve ser assim!

Expor um texto bíblico dá MUITO trabalho. Falo não para hipervalorizar o trabalho de pastores, pregadores e professores de Teologia, mas para atentar ao princípio elencado pelo apóstolo Paulo em seu ministério e aqui, especificamente em 1 Coríntios 2.2. Perceba que tanto 1 como 2 Coríntios, o apóstolo trata acerca de diversos assuntos – casamento, disciplina, dons, eclesiologia, liberdade cristã, ministério, falsos mestres e falsas doutrinas, etc., mas TUDO converge para o evangelho, sendo resumido por ele ao afirmar: Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. (grifo meu). A obra redentora de Cristo é central, essencial e urgente na teologia de Paulo, submetendo todos esses subtemas mencionados anteriormente a Cristo. Encontrei, portanto na relação Teologia Bíblica-Homilética o sermão expositivo, que é o mecanismo que me afasta da tentação de forçar o texto a fim de pretensamente comunica-lo “melhor” ao ouvinte pós-moderno, levando-me a ensinar a Igreja a ler as Escrituras cristocentricamente, aplicando o sermão aos nossos dias sem me descomprometer em apresentar o Evangelho e sua centralidade na vida cotidiana. Convém definir pregação expositiva. Em termos simples, um sermão expositivo é aquele que toma o ponto principal de uma passagem da Escritura, faz dele o ponto principal do sermão e o aplica à vida de hoje.

O australiano Graeme Goldsworthy, anglicano conservador e professor aposentado pelo Moore Theological College, de Sidney, é quem – a meu ver – conseguiu expor tudo isso magistralmente, em seu Pregando toda a Bíblia como Escritura Cristã, Fiel, 2013, 388 p[i]. Sidney Greidanus, norte-americano, ministro da Christian Reformed Church, professor no Calvin College e The King's College, com seu O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo (Cultura Cristã, 2006) e suas obras subsequentes desbravaram essa seara ao ser traduzido para o Português, despertando muitos pregadores a atentarem à uma Hermenêutica ortodoxa e comprometida com o todo da Escritura. Não falta, portanto, referencial e material de estudo. Em meio ao crescimento exponencial do neopentecostalismo e suas doutrinas estapafúrdias, não há mais espaço para quem quer levar a vocação ministerial a sério relegar esse assunto apenas à academia. O discurso esfarrapado de que “igreja não quer saber dessas coisas (...) pois elas não respondem às questões do homem moderno” não deve sequer ser cogitado entre aqueles que se dizem ministros da Palavra e dos sacramentos. É óbvio que, a priori, não precisamos tratar acerca de diacronia e sincronia no púlpito, nem reduzir o sermão a uma exibição de erudição vazia. Mais do que contraproducente, é ir de encontro à tarefa primária do pregador quando diz “assim diz o Senhor”. No entanto, não podemos nos esquivar a trabalhar para que a Palavra de Deus seja pregada como tal, não como mero recurso para palestras motivacionais desenhadas ao gosto do público e aos apetites do expositor. À membresia cabe o desejo sincero em ouvir Deus a cada sermão, aprendendo a depender d'Ele e dos meios que Ele providenciou para vivermos.



[i] Para Goldsworthy, Teologia Bíblica e Sistemática andam juntas nessa tarefa, cabendo ao pregador saber o papel de cada uma delas na pregação. “[A teologia bíblica] se focaliza no contexto do texto em toda a revelação bíblica; [a teologia sistemática] se focaliza na importância dos textos no contexto contemporâneo da doutrina cristã, conforme ela se aplica a nós agora” (p. 66).

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