O QUE É MENTOREAMENTO?


Pra começo de conversa, o termo mentor não aparece na Bíblia. É uma palavra que se introduziu no português por meio da literatura grega de Homero, na qual “Mentor” é o amigo confiável a quem Odisseu encomenda a responsabilidade de cuidar de seu filho Telêmaco. Odisseu partiu para a guerra, mas quando voltou, muitos anos depois, encontrou seu filho parecido consigo, refletindo o seu caráter, fruto do bom trabalho feito pelo seu amigo Mentor. Desde então utilizamos Mentor como sinônimo de "guia", “orientador na caminhada”, "alguém mais experiente interessado e incumbido de treinar/capacitar alguém menos experiente".

Aprendendo na caminhada?

Normalmente “essa história” de caminhar com pessoas nos causa estranheza. Considero dois os motivos. Primeiro porque, grosso modo, somos criados para o mercado de trabalho. Recebemos educação para rapidamente sermos introduzidos nele e isso da melhor maneira possível, leia-se: com o melhor curriculum possível. A lógica é preparar para introduzir [no mercado]. Quase nunca segue-se a sequência introduzir-preparando – com todas as forças que o gerundismo nos permite ilustrar. O segundo e mais óbvio motivo, é que participar do processo de mentoria de pessoas custa tempo e energia, e isso é tudo o que não dispomos – ou não queremos dispor.

Talvez o que, no mundo dos negócios se aproxime mais do conceito cristão de mentoreamento e discipulado, seja o trainee [lê-se "treini"]. 
Trainee é o cargo atribuído a jovens profissionais recém formados que serão treinados e capacitados para ocupar posições de liderança. A [grande] diferença entre o trainee e o discípulo é que o primeiro é treinado para dar resultados a uma empresa ou grupo. O discípulo, no entanto, gera resultados [frutos] naturalmente e é treinado para a glória de Deus.
 

Jesus e os discípulos

Longe de um treinamento formal, porém totalmente intencional, Jesus comissionou doze homens, e de cara definiu prioridades: “...subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar” (Marcos 3:13,14 ARA, grifo meu). Os pouco mais de 3 anos de ministério terreno de Jesus, não tinham por objetivo formar uma escola de pregadores, muito embora, pregar apareça como uma das prioridades. Mas antes de os enviar a pregar vem o custoso e maravilhoso intento de estar com ele.

O discípulo não é um mero executor de tarefas, mas alguém com quem se caminha a fim de, por meio de um vínculo estreito e de total intencionalidade, ensinar a pensar [cosmovisão] e viver [ética/práxis]. Obviamente, a caminhada de Cristo com seus discípulos não pode ser equiparada totalmente a caminhada entre dois pecadores como eu e você. Não havia pecado nem dolo algum em Jesus, logo ele não precisava ser confrontado. Todavia assumiu pacientemente a responsabilidade de conduzir doze homens, dos quais um iria lhe trair - para que se cumprisse a Escritura.

Dominadores e gurus

Todavia, há quem tenha tomado contato com princípios de mentoreamento e esteja confundindo “alhos com bugalhos”. Gente que mantém um círculo de influência na vida de outrem a tal ponto que deixa de ser uma referência para ser um guru. Alguém que ordena o que tem que ser feito, que participa da vida alheia não como pastor (aquele que pastoreia, não necessariamente o ministro ordenado), mas como alguém que toma decisões, pensa e quase vive – se fosse possível – por outrem. Não é isso que vemos quando o apóstolo Pedro trata acerca dos deveres daqueles que, na igreja, têm a proeminência no pastoreio e condução do rebanho:
Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. (1 Pedro 5:1-3 ARA, grifo meu).
Não há sentido em viver uma caminhada de discipulado diferente dos princípios que foram elencados por Pedro. Espontaneamente, como Deus quer. De boa vontade e como modelos do rebanho (cf. 1 Timóteo 4:12). Ainda nas Escrituras, encontramos o apóstolo Paulo encorajando Tito a orientar as mulheres mais velhas a caminharem com as mais jovens (cf. Tito 2:1-5). Isso é mentoreamento.

Preciso de um mentor?

Curta e diretamente, sim, você precisa de um mentor. Talvez você não caminhe regularmente com alguém, encontrando-se periodicamente, trocando ideias e leituras bíblicas e de literatura teológica relevante, mas você precisa de alguém que possa servir de referência. Alguém com quem tenha intimidade para abrir o coração e ser confrontado quando necessário. Alguém com quem você possa tomar um café e dividir as cargas sem se preocupar com julgamentos precipitados. Viver isolado, sem prestar contas a quem quer que seja não é sinônimo de maturidade. Pelo contrário, pode ser sintoma de coração adoecido e alma amargurada e/ou soberba.

Talvez você seja experiente e experimentado na vida, mas ainda assim, para uma vida cristã sadia e equilibrada é muito importante que você viva a perspectiva de mentorear e ser mentoreado. A antiga palavra "tutor" voltou à baila por conta dos "tutoriais" na internet. Pense rápido, quem nunca precisou de um bom tutorial para resolver, aprender ou entender melhor determinada coisa? Não há ninguém que não precise ser mentoreado/tutoriado, tampouco mentorear/tutorear outrem. 
Se tiver tempo, ouça uma canção do Rev. Gladir Cabral que, pessoalmente, ilustra o que foi falado aqui na figura do amigo: Abrigo (clique aqui/vídeo no Youtube).

Comentários

  1. A paz do Senhor Jesus Cristo, Eu Pastor João Carlos Muniz, diretor do site www.pregadoresdoevangelho.com POSTEI ESTA SUA MENSAGEM SOBRE MENTOREAMENTO no nosso site, e gostaria que você olhasse lá como ficou. Amém? - LINK - http://www.pregadoresdoevangelho.com/anuncio/148/mentoreamento-pastoral-o-que-e-isso

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