POUPANDO LOBOS, SACRIFICANDO OVELHAS?
Seguir. Essa é uma das palavras chave do discipulado. Obviamente se deduz que quem segue, segue alguém. Daí surge o desafio de discipular pessoas: compromisso com as Escrituras Sagradas em detrimento de achismos e subjetivismos.
Costumo dizer que ministério é como o casamento: tudo é potencializado. Uma simples declaração ou posicionamento pode se tornar uma tempestade. Ministérios antes edificantes podem se transformar em verdadeiros desastres quase que do dia pra noite, basta que as luzes dos holofotes - antes tão desejados - se voltarem para os escândalos ou declarações infelizes, quando não heréticas. Muitos se decepcionam e deixam seus mestres, outros negam, já outros fincam o pé em apoio incondicional, alimentando-se do erro e do engano.
Uma experiência pessoal
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Rob Bell / Imagem: Desconhecido. |
Em 2011, Rob Bell, conhecido pastor norte-americano, famoso pela série de vídeo-mensagens Nooma, chocou a todos revelando suas crenças no universalismo e outras esquisitices¹, ao publicar o bizarro Love Wins: Heaven, Hell, and fate of every person who ever lived [O Amor Vence: Céu, Inferno e o destino de todas as pessoas que já viveram]², lançado no Brasil pela editora Sextante. Justin Taylor publicou uma crítica severa em seu blog no The Gospel Coalition. Mas não foi tanto o texto de Taylor que causou estrondo mundo afora, mas uma frase de John Piper, publicada em seu twitter oficial, que dizia: "Adeus, Rob Bell", precedido do link para o já mencionado artigo de Justin Taylor.
Pra mim foi um choque. Utilizei fartamente os vídeos do Rob Bell em reuniões de estudos bíblicos e de Grupos Pequenos. Entrei em parafuso com a possibilidade de não ter percebido os ensinos nocivos de Bell no material que utilizava para... discipular pessoas! A coisa piorou quando vi John Piper e tantos outros líderes se manifestando frontalmente contrários a Bell. Entristecido, passei a acusar Piper e os demais de exporem Rob Bell. Foi quando um amigo, pacientemente, me ensinou a máxima do escritor francês Victor Hugo, aplicada até hoje em minha vida e ministério: "Quem poupa o lobo, sacrifica a ovelha". Lição aprendida.
"Sede meus imitadores"
É do apóstolo Paulo uma das expressões mais mal compreendidas das Escrituras: "Sede meus imitadores" (1 Coríntios 4:16). Posteriormente, ele repete a declaração e acrescenta "... como também eu sou de Cristo" (1 Coríntios 11.1). Paulo conclama os cristãos de corinto a abandonarem as dissensões e facções, verdadeiro reflexo de meninice, e passassem a imitá-lo na fé, na caminhada. Imitador ("imitar", mimeomai) é um dos termos neotestamentários para discípulo. Todavia, Paulo submete esse processo a própria caminhada dele com Cristo (1 Coríntios 11.1).
Não há espaço para arbitrariedades ou subjetivismos. O senhorio é de Cristo e somente Ele configura autoridade suprema. À medida em que Paulo imitava a Cristo, tornava seguro aos crentes de Corinto imitá-lo, pois fazendo-o estariam imitando ao próprio Senhor. Paulo e Jesus são colocados lado a lado e naquilo em que o apóstolo se assemelhasse a Cristo, isso deveria ser digno de ser imitado.
Cuidado com os lobos
O juízo temerário é expressamente condenado pela Bíblia. Mateus 7 é sem dúvidas, o texto mais conhecido sobre o tema, mas infelizmente pouco tratado em sua totalidade. Dos versos 1 a 5, Jesus adverte severamente aqueles que se apressam em julgar, fazendo-o temerariamente, sem fundamento ou sob informações de segunda mão - o popular ouvi dizer que (...). Porém, dos versos 15 a 23, Jesus lança luz sobre os falsos profetas:
"Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?" (Mateus 7:15,16)
Se o juízo temerário é proibido, o julgamento dos frutos precisa ser feito! Muitos, utilizando-se apenas da primeira seção do texto acabam acoitando - expressão tipicamente nordestina pra proteger, acolher - lobos por não perceberem o perigo que representam quando encobertos por desavisados, bajuladores ou meninos espirituais (Efésios 4:14). Se as Escrituras desencorajam o juízo temerário, elas encorajam o discernimento espiritual, sem o qual corre-se o risco de chamar o mal de bem e o bem de mal, a escuridão de claridade e a claridade de escuridão, o amargo de doce e vice-versa (Isaías 5.20). Portanto, se vir alguém arrogando-se por mestre, disseminando a muitos ensino contrário às Escrituras, não tenha dúvidas: denuncie o lobo e salve as ovelhas do engodo maligno.
______________¹Leia mais a respeito aqui.
²Caso não lembre da controvérsia, leia a respeito aqui.
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