Eu te amaldiçoei | Tim Challies
Por Tim Challies*
Esqueça essa conversa de que “palavras nunca vão me
machucar”. Paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas palavras… palavras fazem
pior. De certa forma, uma surra dói menos do que uma bronca. Depois que os
hematomas desbotam, as palavras permanecem enterradas como punhais. Conheço
pessoas que ainda estão profundamente feridas por palavras brutais lançadas a
elas anos ou mesmo décadas atrás.
Não é de se admirar, então, que a Bíblia tantas
vezes nos alerte contra palavras inflamadas. E não é de se admirar que a Bíblia
nos alerte contra um coração raivoso ou amargo. Nossas palavras são, afinal,
apenas o transbordar do nosso coração, de modo que o que com o coração se crê,
com a boca se fala.
Mas a Bíblia não nos alerta apenas contra as
palavras que falamos; ela também nos aconselha sobre as palavras que ouvimos. O
Pregador de Eclesiastes diz: Tampouco apliques o teu coração a todas as
palavras que se disserem, para que não venhas a ouvir o teu servo
amaldiçoar-te. Porque o teu coração também já confessou que muitas vezes tu
amaldiçoaste a outros (7.21-22).
Como sempre, o Pregador fala uma verdade profunda.
Sei muito bem que muito do que eu digo sobre os outros é inadequado e que
minhas palavras dizem muito mais sobre mim do que sobre as outras pessoas. Eu
falo com muita frequência, muita liberdade e muita severidade sobre outros,
mesmo sobre pessoas que eu amo. Eu nem sequer quero dizer tudo o que digo, mas
de alguma forma continuo a fazer isso. Jim Winter diz: “Muitos de nós teriam
vergonha se os outros soubessem das coisas que dissemos sobre eles quando eles
não estão presentes. Se tivéssemos de explicar a nossa ação, diríamos que
falamos em um acesso de raiva ou que realmente não queríamos dizer o que
dissemos; ou mesmo que estávamos simplesmente tendo um dia ruim e não tínhamos
uma boa palavra a dizer sobre ninguém. Tudo isso pode muito bem ser verdade,
mas o dano já estará feito”. Eu sempre tenho uma desculpa à mão para explicar
tudo.
Quando eu olho para as minhas próprias palavras, eu
consigo facilmente discernir o que eu realmente quis dizer e o que era apenas o
transbordamento de um espírito amargo e descontente. Mas, como de costume, meu
ponto de vista autocentrado do mundo faz com que eu me esqueça do óbvio. “O que
devemos ter em mente é que as pessoas que falam mal de nós dão a mesma
desculpa! Se formos supersensíveis, nos debruçaremos sobre cada palavra. Se
recebermos a informação de um terceiro, nos debruçaremos sobre cada citação
equivocada”. Mesmo que eu saiba a quantidade de coisas vãs que eu falo,
acredito que outras pessoas querem dizer exatamente cada palavra que dizem. Eu
me dou uma margem de manobra muito maior do que dou aos outros. Peço desculpas
por mim ao mesmo tempo que condeno os outros.
O Pregador oferece sabedoria. Ele me diz para
tratar as palavras das outras pessoas do jeito que eu gostaria que elas
tratassem as minhas – reconhecendo que elas pecam assim como eu pecado, que
elas não querem dizer cada palavra da mesma forma que eu não quero dizer cada
palavra que digo. As notas da Bíblia de Estudo MacArthur dizem: “Já que você
tem muitas palavras ofensivas para serem perdoadas, não seja rígido com as
palavras ofensivas contra você”. Ou, como Spurgeon aconselha: “Você não pode
frear a língua das pessoas e, portanto, a melhor coisa a fazer é frear seus
próprios ouvidos, não importa o que seja dito. Há um mundo de conversa vã e
aquele que se ocupa com isso terá muito para fazer”. Há um mundo de conversa vã
lá fora e um mundo de conversa vã dentro de nós.
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*Tim Challies é pastor da igreja Grace Fellowship, em Toronto, no Canadá, editor do site de resenhas Discerning Reader e cofundador da Cruciform Press. Casado com Aileen e pai de três filhos, ele também é blogueiro, web designer e autor de várias obras.
Fonte: Reforma 21
Obrigada pelo texto.
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