GUARDARÁS A MINHA ALIANÇA, TU E A TUA DESCENDÊNCIA: O Batismo Cristão na Perspectiva Bíblico-Reformada (Parte I)
Ao longo de centenas de séculos de história da igreja, o
batismo cristão [especialmente o batismo infantil] tem sido alvo de muitas
controvérsias e acalorados debates. Seria, então, uma enorme pretensão minha
querer exaurir um tema do qual acadêmicos enormemente capacitados discordam
tanto e não conseguiram dirimir. Como ministro do evangelho, tenho como
preocupação antes de qualquer coisa, fundamentar a doutrina com vistas a
edificação – visto encontrar em meu ministério grande parcela de irmãos que se
encontram com sérias dúvidas quanto ao assunto. Para isso, me basearei –
obviamente além das Escrituras Sagradas – na Confissão de Fé de Westminster[1], principal
declaração doutrinária adotada oficialmente pela Igreja Presbiteriana do Brasil,
bem como nas obras Infant Baptism View, in
Baptism: Three Views, ed. David F.
Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009); e El Bautismo: Sacramento del Pacto de Gracia (Rijswijk: Fundacion
Editorial de Literatura Reformada, 1968). O assunto é extenso, por isso,
dividirei em partes para o melhor aproveitamento da leitura no blog. Minha
ideia é inicialmente tratar de batismo de um modo geral, lançando as bases da
Teologia do Pacto, para em outras postagens, publicadas posteriormente, tratar
especificamente do que não é batismo –
obviamente demonstrando também o que ele
é – e finalmente, sobre batismo infantil. Peço paciência, mas devagarinho a
gente chega lá. Vamos em frente!
DOIS TESTAMENTOS[2],
UM SÓ POVO
Do ponto de vista reformado, o
equívoco básico daqueles que não batizam crianças reside na compreensão
inadequada da continuidade da revelação da história da redenção. A progressividade
da revelação da obra da salvação, planejada por Deus na eternidade, não deve sobrepujar
a sua continuidade e unidade[3],
como cumprimento das promessas da aliança[4].
Existe uma unidade fundamental da aliança da graça à medida que ela se desdobra
progressivamente por toda a Escritura, de Gênesis 3.15 até o seu clímax, com a
vinda de Cristo na “plenitude do tempo” (Gl 4.4). Sinclair Ferguson resume bem
a unidade histórica da Igreja:
A igreja é organicamente uma em toda a história da revelação redentiva. Ela consiste de todos os que são abraçados pela aliança de Deus. A graça de Deus é uma; a fundação da salvação é uma, administrada diferentemente nas épocas de promessa e cumprimento; o instrumento da justificação é um, ou seja, fé salvadora; há um único Israel de Deus[5]. (grifo meu)
O Antigo e o Novo Testamento não ensinam duas religiões diferentes. A Igreja
Cristã não é outra igreja ou seita, como pensavam os incrédulos do século I (cf.
Atos 5.5, veja “seita dos nazarenos” no v. 14). A igreja de Deus pode ser
comparada a uma lagarta e uma borboleta. Elas são consideravelmente diferentes
quanto à forma, mas são a mesma em essência. Tanto é assim, que as palavras
igreja/congregação[6]e
Israel são aplicadas tanto ao povo de Deus no Antigo Testamento, como ao povo
de Deus, no Novo (cf. Hebreus 2.12, citando o Salmos 22.22); Atos 7.38 e Gálatas
6.16).
O apóstolo Paulo explica claramente
que a igreja Cristã não é uma nova árvore, e sim apenas um ramo enxertado na
mesma árvore, cuja raiz é Abraão (Romanos 11.13-24), o “pai de todos os crentes”
(Romanos 4.11). Ele é pai tanto de circuncisos, como de incircuncisos, “que
andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado”
(Romanos 4.11-12). Abraão foi um pecador salvo pela graça de Deus, mediante a
fé nas Suas promessas, assim como todo crente genuíno, em todas as épocas.
Escolhi dar o título a essa série de postagens tomando as palavras de Deus, ditas justamente a Abraão, em Gênesis 17.9: “Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações”.
Escolhi dar o título a essa série de postagens tomando as palavras de Deus, ditas justamente a Abraão, em Gênesis 17.9: “Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações”.
Notas:
[2] Não tenho interesse aqui em discutir se o
termo “testamento” é adequado ou não a ser usado para se referir às antiga e
nova alianças. Me atenho aqui a noção convencional de Antigo e Novo Testamento.
[3] Cf. Jr 31.31-34; Os 1.10-11; Am 9.11-15;
Rm 2.28-29; 9.6-8 e Gl 3.7.
[4] Cf. Lc 1.54-55, 68-70, 72-73; At 2.14-40;
13.32-33 e Gl 3.13-14.
[5] Infant
Baptism View, in Baptism: Three Views, ed. David F. Wright (Downers Grove,
IL: InterVarsity, 2009, p. 100-101.
[6] Tradução do termo grego εκκλησία (ekklesía), correspondente ao hebraico: קהל (Kahal).
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