DO AMOR AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO | por Alan Rennê
por Alan Rennê Alexandrino*
“E um deles, intérprete da Lei,
experimentando-o, lhe perguntou: Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?
Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento.
O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.35-39).
É comum lermos e ouvirmos interpretações absurdas das palavras
de Jesus no texto acima. Há quem imagine que aqui o Senhor Jesus Cristo está
apresentando, na verdade, três mandamentos: 1) Amar a Deus sobre todas as
coisas; 2) Amar o próximo; e 3) Amar a si mesmo. Certa feita li uma
interpretação feita por um pastor que me deixou estarrecido. Ele interpretou as
palavras de Jesus no versículo 39 da seguinte maneira:
“– Jesus diz que para poder amar o próximo eu preciso amar primeiramente a mim mesmo. Não posso amar a ninguém sem que, primeiro, me ame. Como poderei amar a quem quer que seja se eu não amo nem a mim? ”
Mas
será que é isso mesmo que Jesus está ensinando? Jesus está, por acaso,
estimulando o amor ao ego como ponte para o amor ao próximo?
De forma alguma! Ao dizer que o homem deve amar o seu próximo
como a si mesmo, Jesus está ordenando que seja feito a outra pessoa o benefício
que, presente e naturalmente, é feito a si mesmo. A expressão “a ti mesmo”
estabelece um parâmetro que já é conhecido experimentalmente por aquele que
recebe o mandamento. No caso, eu posso dizer que sei exatamente como devo amar
ao meu próximo. E posso dizer que sei, porque tenho um parâmetro em mim mesmo,
que me fornece o ideal a ser posto em prática no amor pelo meu próximo. É esse
o entendimento de Calvino. De acordo com ele, o homem já é devotado a si mesmo.
Ele comenta: “Pois, visto que cada homem é devotado a si mesmo, nunca existirá
verdadeiro amor ao próximo, a menos que o amor de Deus reine”[1]. Escrevendo no contexto da
discussão sobre as motivações corretas que devem ser inculcados nos corações dos filhos, Lou Priolo corrobora esse entendimento: “O motivo do cristão deveria
ser amar seu próximo (com a mesma intensidade) que ama a si mesmo. Como todo
homem naturalmente ‘alimenta e estima a si mesmo’ assim o cristão deve amar ao
seu próximo da mesma maneira”[2].
Então, você deve amar ao teu próximo da exata maneira como
você já ama a si mesmo. Deve desejar em relação ao teu próximo o mesmo que você
deseja pra si. O bispo J. C. Ryle colocou nos seguintes termos: “Aquele que ama
ao próximo recusará fazer-lhe qualquer dano proposital, seja em sua pessoa,
caráter ou propriedade. Contudo, não parará aí. Em todos os sentidos desejará
fazer-lhe o bem. De todos os meios promoverá o seu conforto e felicidade.
Procurará aliviar suas tristezas e fomentar suas alegrias”[3]. É exatamente isso que Jesus ordenou através daquilo que ficou
conhecido como a Regra Áurea: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos
façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”
(Mateus 7.12). Deve-se notar que a mesma razão é apresentada pelo Senhor Jesus
ao ordenar os dois grandes mandamentos da Lei: “Destes dois mandamentos
dependem toda a Lei e os Profetas” (v. 40).
Isto posto, meu desejo sincero é que o Senhor nos ajude a
entesourarmos em nossos corações a verdadeira natureza do amor ao próximo. Além
disso, que por meio da assistência divina, amemos ao nosso próximo não somente
“de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1João 3.18).
___________
Alan Rennê Alexandrino, é pastor presbiteriano e autor do texto. Link original disponível aqui. Acessado em 29 de novembro de 2016.
** Última atualização: 09/11 - 09h42.
NOTAS:
[1] John Calvin. Commentary on Matthew, Mark, Luke. Vol. 3. Grand
Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library, 1999. p. 35. Extraído do site:
http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom33.html.
[2] Lou Priolo. O Coração da Ira: Guia Prático para Lidar com a
Ira dos Filhos. São Paulo: Nutra, 2009. p. 140.
[3] J. C. Ryle. Meditações no Evangelho de Mateus. São José dos
Campos: Fiel, 2002. p. 192-193.
Pastor, amei o blog, bem como esta postagem em especial. Gostaria inclusive de saber mais sobre...
ResponderExcluirQue bom que gostou do blog! Há bastante material de vários autores e meus. A intenção é ajudar na edificação. Sobre o assunto especificamente, recomendo esse livro: http://www.nutrapublicacoes.com.br/autoestima-uma-perspectiva-biblica.html
ExcluirHá! E também já ouvi não só de um, mas de vários pastores e membros da igreja, esse argumento em favor do ego e do amor próprio. De que devemos primeiramente amar a nós mesmos. É bom ver algo sobre o assunto...
ResponderExcluirInfelizmente é muito comum, Jailson. Uma exegese apressada, distorcida ou mesmo a falta dela produz isso aí que estamos acostumados a ouvir/ler. O texto do Pr. Alan ajuda a esclarece-lo.
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