FUJA DA ''HIPERESPIRITUALIDADE''!
Os “hiperespirituais”
são um fenômeno comum em círculos cristãos. São pessoas tão santas e
irrepreensíveis, que fazem as demais sentirem-se lixo jogado na rua ao lado
delas. Transmitem tamanho ar de superioridade espiritual, que todos temem que
elas possam, com apenas um olhar, identificar todos os seus pecados. Não pecam,
e talvez nunca tenham pecado. Oram o tempo todo e sabem as Escrituras de trás
para frente. São as primeiras a se colocarem em pé para orar. Estão sempre com
as mãos e os olhos erguidos aos céus. Não tem nada do que se arrepender. Nunca
tiveram dúvidas a respeito de sua própria fé. O texto “ajuda-me na minha falta
de fé” não faz sentido para elas, pois sua fé é tamanha que não mudaria apenas
um monte, mas um continente de lugar.
É óbvio que estou usando de sarcasmo para
fazer uma caricatura. Não há no mundo pessoa que possua tais atributos. O que
há, são os que ostentam orgulhosamente essa falsa hiperespiritualidade. Na verdade, somos tentados a parecer hiperespirituais para os outros, assim
como os fariseus, que olhavam de cima para baixo para os publicanos, por
exemplo (Lc 18. 9-14). Às vezes
esquecemos da nossa condição miserável. Esquecemos que nossa fé é fraca, e que
o desespero nos atinge com frequência. Gostaríamos que a vida cristã fosse
simples, tipo "preto e branco", mas ela assume uma variedade de tons
de cinza desagradável. Se formos realmente honestos, quem não se sente
reprovado?
Outra tentação é olhar para o passado e
pensarmos nos personagens históricos como pessoas sem pecado, quase tão puras
quanto os anjos. Isso é um grande equívoco. O apóstolo Paulo, por exemplo,
considerava-se o principal dos pecadores (1Tm
1.15), alguém que enfrentava constante luta com seus pecados (Rm 7.15-24). Quem nunca ouviu a
história que Martinho Lutero orava três horas antes de iniciar seus trabalhos
nos dias atarefados? Pensamos “que homem santo, não chego aos seus pés”. No
entanto, em uma carta real de Lutero ao seu amigo Felipe Melanchthon ele
escreveu: “Você me exalta demais… Sua alta estima a meu respeito me envergonha
e me tortura, visto que – infelizmente – assento-me aqui à vontade, endurecido
e insensível – ai de mim! –, orando pouco, lamentando pouco pela igreja de
Deus. Em resumo, eu deveria ter o espírito ardoroso, mas eu queimo na carne,
lascívia, preguiça, no ócio, na sonolência. Já se passaram oito dias em que
nada escrevi, não orei nem estudei; isso se deu em parte por causa das
tentações da carne, e em parte porque sou torturado por outros encargos”
(Lutero apud REEVES, 2016, posição 106, Kindle
Edition).
A hiperespiritualidade
é enganosa e alimenta uma autossuficiência condenada pelo Cristo que veio para
os pecadores e não para os justos (Lc
5.29-32). Quando sustentamos uma posição que não é a nossa, deixamos de
desfrutar do perdão gracioso e do amor incondicional de Deus. Michael Reeves
diz que à medida que crescemos como cristãos, não devemos nos sentir mais
autossuficientes, e sim mais necessitados. A vida cristã deve ser uma antítese
à autodependência. Se formos sinceros, Deus nos receberá, nos perdoará os
pecados e nos purificará de toda injustiça (1Jo 1.9), pelos méritos de seu Filho Jesus. Por isso, fuja da hiperespiritualidade!
“Desventurado homem que sou! Quem me
livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor! ” (Romanos 7.24-25).
________________
Fonte:
Diário Reformado.
Comentários
Postar um comentário
As opiniões expressas nos comentários não refletem, necessariamente, posicionamentos e convicções do autor do blog. Reservo-me o direito de apagar comentários ofensivos à moral, bom senso e a civilidade.
***
Caso queira comentar, mas não possui conta no google (Gmail), selecione a opção "Nome/URL". URL é o endereço do seu site/blog, caso não tenha ou não queira mencionar, insira seu nome e deixe o campo URL em branco.