UMA TEOLOGIA DA ADORAÇÃO | por Kevin DeYoung
por Kevin DeYoung*
Não há nada mais
importante na vida do que adoração. Todos nós adoramos algo ou alguém. A
questão é se adoramos a pessoa certa da forma correta. Na minha igreja, nosso
desejo é que toda a vida seja de adoração a Deus (Romanos 12.1-2; 1 Coríntios
10.31). Ele é digno de receber glória, honra e poder (Apocalipse 4.11). Em particular, queremos que nossos cultos de
adoração no domingo sejam agradáveis a Ele. Queremos que nossa adoração
conjunta no domingo inspire e instrua nossa adoração da segunda ao sábado. Se
reunir com o povo de Deus no dia do Senhor para adorar perante o trono de Deus
sob a autoridade da palavra de Deus é nosso dever solene e contente privilégio.
É com esse objetivo supremo em mente que
nossa igreja mantém alguns valores, quando se trata da adoração comunitária.
Essa lista a seguir está longe de ser abrangente ou completa. Pelo contrário, é
uma tentativa de prover um breve sumário dos princípios mais importantes que
baseiam nossa teologia e filosofia da adoração.
1.
Glória a Deus
A adoração é para Ele. Ele é a audiência
mais importante em cada culto. A adoração comunitária é uma antecipação da
reunião do povo de Deus no céu. As grandiosas cenas de adoração celestial em
Apocalipse são tanto do presente quanto do futuro: nós direcionamos toda a
nossa atenção para o trono; cantamos sobre a obra de Cristo; somos sinceros e
diretos em nossa devoção a Deus. Nossas reuniões semanais – sejam pequenas ou
grandes, extraordinárias ou regulares – são um doce aperitivo da adoração
celestial que um dia experimentaremos na eternidade.
2.
Foco no evangelho de Cristo
O evangelho – a vida, morte e ressurreição
de Jesus – é o que torna a adoração possível. O evangelho é o que proclamamos
na adoração. O evangelho é o que cantamos na adoração. O evangelho é o que
chama as pessoas à virem adorar em comunhão, inspira as pessoas a louvarem e
envia as pessoas para viverem em constante adoração. Cada Domingo é uma nova
oportunidade de cantar sobre a cruz, nos gloriarmos no nosso Redentor e nos
maravilharmos com as boas novas de Cristo para nós e em nós. Jesus Cristo está
no centro de todo o pensamento bíblico a respeito de adoração. Ele é o mediador
entre Deus e o homem. Seu sacrifício substitutivo na cruz é a propiciação pelos
nossos pecados. Ele é o agente da salvação e a benção para as nações. Ele é o
novo templo onde todos os verdadeiros crentes congregam. Cristo nos atrai para
si na adoração e, através dele, um novo relacionamento com o Pai é possível.
Embora nossa adoração congregacional não seja especialmente focada nos não
crentes (como se eles fossem a audiência que precisamos agradar mais), nosso
foco em Cristo significa que nós certamente desejamos que o evangelho seja
apresentado de forma inteligível e crível aos não cristãos. Somos privilegiados
de termos visitantes todo Domingo, dentre os quais alguns não são convertidos.
Uma de nossas orações toda semana é que os não crentes ouçam o chamado de
Cristo à fé e ao arrependimento, e que Deus busque e salve os que estão
perdidos.
3.
Bíblica
Todo o culto ensina o povo de Deus, então
tudo – as orações, as músicas, a pregação – deve ser bíblico. Na adoração
comunitária nós lemos a Bíblia, pregamos a Bíblia, cantamos a Bíblia e vemos a
Bíblia nos sacramentos. Cada elemento do culto deve ser avaliado com base na revelação
de Deus nas Escrituras: estamos cantando, dizendo e ouvindo a verdade? Como
essa é a nossa convicção, também afirmamos que “o modo aceitável de adorar o
verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e assim limitado pela sua vontade
revelada” (Confissão de Fé de Westminster,
cap. XXI.I). Esse “princípio regulador” não deveria ser a fonte de conflitos
sem fim e especulações vazias, mas uma oportunidade para o povo de Deus
encontrar unidade e liberdade ao adorar Deus da forma como ele deseja ser
adorado.
4.
Edificante para o povo de Deus
A adoração corporativa é diferente da
adoração diária em seu foco na edificação. Por causa desse foco, há muitas
atividades que são apropriadas para o cristão em sua vida que não inapropriadas
para o culto. Há muitas formas de arte que podem ser praticadas e apresentadas
para a glória de Deus que, entretanto, não são adequadas para a adoração
coletiva. O princípio de Paulo em 1
Coríntios 14 é que a adoração conjunta deve buscar o máximo de entendimento
comum. Isso significa, entre outras coisas, que o culto de adoração não apenas
será centrado na Palavra, mas também será cheio de palavras.
5.
Ênfase nos meios de graça
Deus pode agir de diversas formas, mas ele
se comprometeu a estar conosco e nos transformar através de certos “meios de
graça”. Ele comunga conosco por meio da oração, da palavra e dos sacramentos da
Ceia do Senhor e do Batismo. Nossos cultos enfatizam esses meios ordinários
pelos quais Deus promete nos dar mais graça. Nos reunimos para adorar para dar
glória a Deus, mas também para nos encontrarmos com ele e recebermos as bênçãos
de suas mãos (Números 6.24-26). O
ato central do culto de adoração é a pregação da palavra de Deus. Nós cremos
que isso é melhor realizado por meio da exposição da cuidadosa da Escritura, guiada
pelo Espírito Santo. Normalmente, isso significa passar verso por verso de um
livro da Bíblia. Independente da abordagem, todo sermão deve fluir claramente
da Escritura e proclamar o evangelho de Deus. Por meio disso tudo, esperamos
que cada adorador possa clamar “o Senhor está neste lugar” (Gênesis 28.16).
6.
Canto congregacional
Escolher a composição musical e o conteúdo
lírico da adoração congregacional é uma tarefa que requer atenção cuidadosa aos
princípios musicais e mais cuidadosa ainda à fidelidade teológica. Cremos que
há canções novas que podem ser cantas para Jesus. Também cremos que há uma
grande herança musical na igreja que devemos abraçar. Não vemos problema em
projetar letras em uma tela. Mas também cremos no valor que existe em usar e
aprender de um bom hinário. Nossos cultos usam músicas de diferentes gêneros e
diferentes séculos. Usamos uma variedade de instrumentos, desde guitarras e
bateria ao órgão. Em tudo isso, o som mais importante é o da congregação
cantando.
7.
Liturgia (sem exageros)
Praticamente toda igreja tem uma ordem de
culto e um padrão familiar de fazer as coisas, o que significa que toda igreja
tem uma liturgia. Mesmo que não sejamos muito rígidos em nossa liturgia, ainda
assim queremos que ela seja rica, sólida e bíblica. Nosso culto tem quatro
partes: louvor, restauração, proclamação e resposta. Nós vemos esse padrão nas
cerimônias de pacto e aliança da Escritura e em diversos encontros divinos. Em Isaías 6, por exemplo, Isaías comparece
diante de Deus e o adora; então ele confessa seu pecado e busca restauração;
Deus então proclama sua palavra a Isaías; finalmente, Isaías responde com seu
compromisso a Deus. Esse também é um padrão do evangelho: nos aproximamos de
Deus com admiração, vemos nosso pecado, ouvimos as boas novas e respondemos em
fé e obediência. Nossos cultos não caem na mesmice toda semana, mas também não
tentamos inventar algo novo todo Domingo. Dentro desses quatro “atos” (louvor,
restauração, proclamação e resposta) podemos encontrar elementos litúrgicos
básicos como uma oração de confissão de pecados e certeza do perdão, uma longa
oração pastoral, leitura da Escritura e o Batismo e a Ceia do Senhor.
8.
Tradição reformada
A igreja tem pensado em como adorar por
séculos. Nós queremos aprender com nossos antepassados espirituais e construir
em cima de seus fundamentos. Para esse fim, não hesitamos em empregar os Dez
Mandamentos, credos, confissões, catecismos, leituras responsivas e outras
formas que têm sido comuns na história da igreja. Queremos que nossos cultos
contenham mais do que um “momento de louvor”, um sermão e uma música para
encerrar. Como igreja presbiteriana, usamos o Diretório de Culto da nossa
denominação. Queremos que nossa adoração seja cativantemente reformada, isso é,
sem ser arcaica ou arrogante, enraizada em nossa herança histórica e fiel à
Escritura.
9.
Oração
Nossos cultos incluem diversas orações
diferentes. Às vezes temos uma oração de confissão, pois pecamos toda semana e
necessitamos da misericórdia do evangelho toda semana. Normalmente temos uma
oração congregacional mais longa, um tempo importante para orarmos pelas
necessidades das famílias da igreja e pelo mundo. Outras orações também são
comuns: uma oração de adoração no início do culto, uma oração por iluminação
antes do sermão e uma breve oração após o sermão. Regularmente temos um culto
de oração no primeiro domingo do mês, no culto da noite. É difícil que o povo
de Deus entenda que eles devem orar, ou veja que podem orar, ou aprendam a como
orar, se a oração não é parte significativa do que fazemos quando nos reunimos
para adorar.
10.
Excelência que não distrai
Na adoração corporativa, o foco deve ser no
evangelho e na glória suprema de Jesus Cristo. Se as guitarras estão
desafinadas, o sistema se som está com microfonia, o pregador gagueja em cada
frase e quem conduz as músicas deixa todo mundo meio nervoso, então nosso foco
estará no lugar errado. Como fazer as coisas com decência e ordem ajuda os
outros e é agradável a Deus, devemos buscar adorar com excelência (1 Coríntios 14.40). Mas essa excelência
não pode ser algo que distrai (para usar uma expressão do John Piper). Se o
guitarrista começa um solo fantástico, o sistema de som possui um subwoofer** embaixo de cada assento, o
pregador exala eloquência estética e os que conduzem as músicas parecem fazer
você se sentir aproveitando uma performance, então nosso foco estará igualmente
no lugar errado. O objetivo é liderar de tal forma que não somos nem
desastrados nem argutos demais para que não nos esqueçamos da glória de Deus.
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Fonte: Publicação original aqui | Acesso em 21/11/16 | Tradução: Henrique Luna.
Fonte: Publicação original aqui | Acesso em 21/11/16 | Tradução: Henrique Luna.
*Kevin
DeYoung é o pastor principal da University
Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope
College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell
Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog
na página do ministério The GospelCoalition.
**Subwoofer é um tipo de reprodutor usado para aumentar o som de uma
caixa de som, variam de 20 Hz a 200 Hz.
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