HOLOCAUSTO MODERNO: O EVANGELHO E O ABORTO | David Platt


A PERGUNTA FUNDAMENTAL

A pergunta fundamental que todos temos de responder — e que determina de que modo encaramos o aborto — é a seguinte: o que está dentro do útero? É um ser humano? Ou será meramente um embrião, um feto? Praticamente qualquer outra pergunta e todo argumento na controvérsia sobre o aborto retoma essa indagação: o que, ou quem, está no útero? Uma vez respondida essa pergunta, tudo o mais ganha perspectiva. [1]

Pense nisso. Conforme assinala Gregory Koukl, “Se aquele que ainda não nasceu não for um ser humano, não há necessidade de justificativas para o aborto”. [2] Há quem sustente isso. Essas pessoas dizem que aquele que ainda não nasceu não é uma pessoa ou simplesmente que é uma pessoa com o potencial para se tornar um ser humano (seja lá o que for que isso signifique). Uma vez mais, se isso for verdade, o argumento chegou ao fim. Não há necessidade de justificativas para o aborto.

Contudo, conforme diz Koukl: “Se aquele que ainda não nasceu for um ser humano, não há justificativa adequada para o aborto”. [3] Muita gente diz: “O aborto é um assunto complexo, simplesmente não há respostas fáceis”. Contudo, se o que está dentro do útero materno for uma pessoa, então mesmo que alguém seja favorável ao aborto ou defenda o direito de escolha da mulher pelas mais diversas razões, todo seu raciocínio cai por terra. Seja qual for seu posicionamento atual na questão do aborto, imagine por um momento que aquele que ainda não nasceu é uma pessoa formada e criada pelo próprio Deus. Se isso for verdade, reflita então sobre os argumentos básicos a favor do aborto.

“A mulher tem direito à privacidade com seu médico”. Sem dúvida, temos direito a algum grau de privacidade. Contudo, nossas leis invadem constantemente a privacidade das pessoas quando a vida de outra pessoa está em jogo. Nenhum homem ou mulher tem direito a uma conversa em particular com um médico para conspirar sobre o modo de pôr fim à vida de alguém. Se aquele que ainda não nasceu é um ser humano, cabe-nos protegê-lo a despeito do que isso signifique para a privacidade de alguém.

“A mulher deve ter o direito de escolher”. Todos concordamos, porém, que ninguém deve ter direito de escolha ilimitado. Se uma criança pequena ou um adolescente se tornar um fardo ou for muito dispendioso, isso não dá a seus pais o direito de eliminá-los. Da mesma forma, portanto, em se tratando do aborto, a questão de fato não é se a mulher tem direito de escolha, e sim se essa mulher tem, de fato, em seu útero, um ser humano que, para Deus, é valioso. Se assim for, disso se segue que o dever moral de honrar a vida supera a dificuldade pessoal que possa resultar da gravidez. Decidir pela eliminação de uma vida inocente é, por definição, escolher cometer um homicídio.

De fato, a questão primordial no debate sobre o aborto é a identidade daquele que ainda não nasceu. Vejamos como Gregory Koukl descreve uma menininha chamada Rachel, filha de um amigo da família:
Rachel está com dois meses, mas faltam ainda seis semanas para que ela seja um bebê a termo, ou seja, com seu desenvolvimento completo. Ela nasceu prematuramente quando tinha 24 semanas, no meio do segundo trimestre de gestação da mãe. Quando nasceu, Rachel pesava 710 gramas, mas seu peso caiu para menos de 700 gramas pouco depois. Ela era tão pequena que cabia na palma da mão de seu papai. Rachel era um ser humano pequenino e vivo. Foram tomadas medidas heroicas para salvar a vida dessa criança. Por quê? Porque temos a obrigação de proteger, alimentar e cuidar de outros humanos, especialmente criancinhas que, sem nossa ajuda, morreriam. Rachel era um ser humano vulnerável e precioso. No entanto, veja só, se um médico entrasse no quarto do hospital e, em vez de cuidar de Rachel, tirasse a vida dessa menininha no momento em que ela estivesse mamando no peito da mãe, isso seria homicídio. Contudo, se essa mesma garotinha — a mesma Rachel — ainda estivesse abrigada dentro do útero de sua mãe, a poucos centímetros de distância, ela poderia ser legalmente morta porque se trataria de um aborto. [4].

Para qualquer pessoa razoável, isso não faz sentido algum. O aborto é um absurdo total caso se trate de uma criança no útero da mãe.

Tudo — tudo! — Gira em torno do que acontece no útero materno, e a Escritura é clara: esse útero abriga uma pessoa que está sendo formada à imagem de Deus. Qualquer distinção entre alguém que ainda não nasceu e uma pessoa (ou entre um ser humano e uma pessoa, por assim dizer) é tanto artificial quanto contrária à Bíblia. Deus vê aquele ser que ainda não nasceu como uma pessoa e o designa para viver desde o momento da concepção. Embora nossa cultura esteja continuamente lutando contra essa ideia, não é possível acreditar na Bíblia e negar que aquele ser que ainda não nasceu seja uma pessoa. No momento em que, como seguidores de Cristo, aceitamos isso, não podemos mais nos sentar passivamente enquanto pessoas são assassinadas impiedosamente no útero de suas mães.

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 Fonte: TuPorém.
[1] Estou em dívida nessa seção com um livrinho escrito por Gregory Koukl intitulado Precious unborn human persons (Signal Hill: Stand to Reason Press, 1999), esp. o capítulo 1, no qual me baseei para escrever boa parte da reflexão que se encontra aqui.
[2] Ibidem, p. 7.
[3] Ibidem. A única exceção a isso, obviamente, é quando a vida da mãe corre perigo iminente. Nesse caso, uma das duas vidas humanas será perdida e pode-se decidir pela vida da mãe. Os argumentos nessa seção seguem o livro de Koukl, Precious unborn human persons, p. 8-12.
[4] Ibidem, p. 26-7.
Trecho extraído da obra “Contracultura“, de David Platt, publicado por Vida Nova: São Paulo, 2016, p.85-88. Traduzido por A. G. Mendes. Publicado com permissão.

David Platt iniciou no ministério em 2006, foi pastor da igreja The Church at Brook Hills, em Birmingham, no Alabama, e atualmente é presidente da Junta Internacional de Missões (imb.org). Foi também o fundador de Radical (radical.net), organização voltada a fornecer recursos para o ministério e para servir à igreja no cumprimento da missão de Cristo. É bacharel em humanidades e em jornalismo pela Universidade da Georgia, mestre em divindade e teologia e doutor em filosofia pelo Seminário Teológico Batista de New Orleans. Serviu nesse mesmo seminário como capelão e como professor assistente de Pregação Expositiva e Apologética, além de atuar como evangelista da igreja Edgewater Baptist Church, em New Orleans. É autor de Siga-me e Radical. É casado com Heather, com quem tem quatro filhos: Caleb, Joshua, Mara Ruth e Isaiah.

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