A CULTURA NUMA PERSPECTIVA CRISTÃ REFORMADA
por Leland Ryken
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Galeria de Arte Moderna e Contemporânea | Rio de Janeiro-RJ |
A cultura consiste nas instituições,
tecnologias, arte, costumes e pautas sociais que se desenvolvem numa sociedade.
A cultura é o contexto dentro do qual toda pessoa vive inevitavelmente a sua
vida cotidiana.
O problema de “Cristo e cultura” somente se
entende como a relação entre os cristãos e a cultura em que vivem. Mas esta
ênfase obscurece uma importante questão: inclusive quando os cristãos rejeitam
a cultura que os cerca, esta continua sendo o meio de sua existência, enquanto
criam uma subcultura cristã. O Cristianismo acultural não existe.
AS POSTURAS HISTÓRICAS
O clássico livro de H. Richard Niebuhr com
o título Christ and Culture[1] relata
as cinco atitudes que os cristãos adotam historicamente frente à questão da
cultura. Tanto na história como na vida individual do cristão, não existe uma
resposta única frente à cultura.
A postura mais radical sustenta que Cristo
está contra a cultura. Aqui se entende a cultura como um elemento hostil ao
Cristianismo, tanto em teoria como na prática. Independentemente da sociedade
em que se encontrem imersos os cristãos, são chamados a opor-se aos costumes e
traços desta. A entrega a Cristo requer uma decisão entre ambas as coisas.
Uma segunda postura é a atitude de ver a
Cristo na cultura, que permite a harmonia fundamental entre Cristo e a cultura.
O próprio Cristo é considerado como um herói supremo da cultura. A sua vida e
ensino é o maior benefício humano da história. Portanto, os seguidores de
Cristo podem confiar que a cultura é essencialmente congruente com os seus
próprios ideais, e não tem porque renunciar àquela em que se estão imersos.
Uma terceira possibilidade é a de que
Cristo está por cima da cultura. Esta postura de síntese afirma tanto a Cristo
como a cultura, mas mantendo a distinção entre eles. Cristo é algo mais que um
simples herói cultural. Ele é superior e maior que a cultura e digno de uma
fidelidade maior. Ma a cultura também exige a participação cristã. Como
cidadãos de dois reinos, os cristãos podem viver com uma consciência limpa em
ambos os mundos, do mesmo modo que fez Jesus, o Deus Homem.
Em quarto lugar, os teólogos como o
apóstolo Paulo, ou Lutero enfatizaram a Cristo e a cultura de modo paradoxo.
Esta postura se baseia na dualidade que aceita a autoridade tanto de Cristo como
da cultura. Consequentemente, os cristãos vivem experimentando uma desagradável
tensão, tentando satisfazer as exigências de ambas autoridades, e desejando uma
salvação eventual e meta-histórica que resolva essa situação.
Por último, se pode entender a Cristo como
o transformador da cultura. A tradição de Agostinho e Calvino afirma que,
considerando a condição da queda da cultura humana, o compromisso com Cristo
permite à pessoa converter a cultura num objetivo santo. Devido ao fato de que
Cristo converte as pessoas e as instituições sociais, os cristãos podem seguir
com a obra de Deus mediante as suas atividades culturais ordinárias.
FUNDAMENTOS
DOUTRINÁRIOS
O respaldo cristão da cultura começa com a
doutrina da criação. Isto obriga aos cristãos a reivindicar o mundo para Deus,
e fomenta a sua ira ao ver o grau em que o mundo de Deus foi dominado por
Satanás e o mal. Os cristãos têm um chamado criacional e outro missionário.
Uma segunda doutrina chave é a Queda e o
mal consequente que incide na natureza humana e as instituições sociais. Para
um cristão a cultura é sempre uma prova, com tendências para a depravação (se
bem que com mais em certas épocas e lugares que em outros). Como tudo o mais
dentro de um mundo caído a cultura possui uma tendência permanente de cruzar a
linha entre o bem e o mal.
Todavia, a Bíblia não localiza o mal em
algumas formas externas per si. O mundo e a cultura humana são capazes de ser
usados bem ou mal. O abuso que se faz de algo, não o invalida. O resultado é a
necessidade da responsabilidade moral na busca da cultura.
O aforismo de Cristo que ordenou aos seus
seguidores a “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt
22:21), resume o tema bíblico que diz que as instituições da sociedade formam
parte do design que Deus fez da vida humana e, como tal são dignas de sua
sinceridade legítima. Mas no centro do Cristianismo achamos a convicção de que
o “que é de Deus” merece um maior respeito que o que é de César. A cultura é
sempre um bem secundário.
A doutrina da vocação (crença de que Deus
chama as pessoas para desempenhar trabalhos específicos e lhes concede a
capacidade necessária para realizá-las) contribui igualmente para a afirmação
cristã da cultura. A Bíblia aceita como fato (por exemplo: Gn 4:20-22) que Deus
chama a certas pessoas a serem agricultores, outros para serem músicos, outras
a serem arquitetos, chamamentos que todos eles têm conexões culturais.
A convicção cristã de que para uma pessoa
redimida toda a vida pertence a Deus permanece resumida na frase do NT que diz:
“assim, pois, quer comais ou bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo
para a glória de Deus” (1 Co 10:31). Para um cristão, inclusive o projeto cultural
mais corrente pode formar parte de uma vida centrada em Deus.
__________________
NOTA:
[1] H. Richard Niebuhr, Christ and Culture
(New York, 1951).
Extraído de David J. Atkinson & David
H. Field, orgs., Diccionario de ética Cristiana y teologia pastoral (Terrassa,
CLIE, 2004), pp. 403-405.
Traduzido por Ewerton B. Tokashiki
Fonte: JMC.
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