A BONDADE E A HONRA DE UMA MULHER
Joel Beeke
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Fernand Toussaint (1873-1956), Afternoon reading | óleo sobre tela. |
O texto abaixo foi extraído do livro O Legado de Lutero, organização de R. C.
Sproul e Stephen Nichols, da Editora Fiel.
A visão de casamento que
se tem é inseparável da visão que se tem das mulheres. A visão de Lutero quanto
às mulheres é complexa, pois ele tanto afirma como nega sua igualdade de
diferentes modos. Disse ele que a primeira mulher “não era igual ao homem em
glória e prestígio”, mas que compartilhava a mesma humanidade essencial e a
imagem de Deus (Gn 1.27). Lutero
observou: Assim, ainda hoje, a mulher é participante da vida futura, como Pedro
diz que são coerdeiros da mesma graça (1Pe
3.7). Na família, a esposa é uma parceira no gerenciamento, com interesse
em comum pelas crianças e a propriedade, mas há uma grande diferença entre os
sexos. O homem é como o sol no céu; a fêmea, como a lua; os animais, como as
estrelas, sobre as quais o sol e a lua têm domínio.
Em outro momento, Lutero
disse que, pela criação, a mulher era “igual a Adão” em capacidade e domínio
sobre a terra e teria permanecido assim se não fosse a queda. Lutero acreditava
que a queda da humanidade resultou na sujeição da mulher a seu marido (Gn 3.16). Diferente de alguns na
cristandade, Lutero não responsabilizava a mulher pela queda, mas a fraqueza da
natureza humana. Ele disse que Eva deveria ser “louvada como uma mulher muito
santa, cheia de fé e amor” quando considerada depois da queda.
Para um homem de seu
tempo e lugar, Lutero não era misógino. Ele apoiava os esforços evangélicos de
defender o gênero feminino contra a degradação sexista. As mulheres não são uma
maldição, mas uma bênção de Deus. Lutero disse: “Imagine como seria o mundo sem
esse sexo [feminino]. O lar, as cidades, a vida econômica e o governo
literalmente desapareceriam. Os homens não conseguem viver sem as mulheres.
Mesmo que fosse possível aos homens gerar e dar à luz filhos, não conseguiriam
viver sem as mulheres”.
O
santo e honrado estado do matrimônio
As perspectivas
medievais sobre o sexo dentro do casamento concordavam com a necessidade das
relações sexuais para produzir filhos, mas lamentavam o ato em si como algo
intrinsecamente pecaminoso. No século XI, o Cardeal Damiano via as relações
sexuais com horror, dizendo que o sexo no casamento excluía as pessoas dos mais
altos lugares no céu. Ele dizia que o sexo só se justifica quando não se tem
prazer nele. Em contraste, Lutero enfatizava a bondade e a honra das relações
sexuais entre marido e esposa (Hb 13.4).
Disse ele: Essa condição não deve ser condenada ou rejeitada como algo mal e
sujo, como fazem o papa e seus seguidores. Ser casado é ordenança instituída
por Deus, pois, quando Deus criou o homem e a mulher, ele mesmo os colocou
nessa condição em que não somente podiam, como também deveriam viver
piedosamente, honradamente, vidas puras e castas, em que gerassem filhos e
povoassem o mundo, na verdade, o reino de Deus.
Os maridos e as esposas
devem agradecer a Deus por lhes dar seus próprios gêneros distintos e
colocá-los juntos “no santo estado do matrimônio”. Mesmo que o Senhor Jesus
viesse em glória “quando um homem e sua mulher estivessem tendo relações
maritais”, não haveria razão para temer, pois eles estariam cumprindo o chamado
que Deus pôs sobre eles. O sexo no casamento não é pecado; o “desejo natural e
ardente” da atração sexual foi ordenado por Deus. Satanás “difama e envergonha
o casamento, mas os adúlteros, as prostitutas e os cafajestes permanecem com as
mais altas honras”. Por mais que a lascívia, a dor e a vergonha tenham maculado
nossa sexualidade desde a queda, jamais devemos cessar de reconhecer a bondade
da criação de Deus, pois o Espírito Santo não se envergonha de falar da
sexualidade humana em sua mais pura e santa Palavra. Lutero rejeitou
especialmente a ideia de que fazer amor com o cônjuge apaixonadamente seria
algo equivalente ao adultério.
Lutero nutria profunda
preocupação com a situação dos sacerdotes, monges e freiras, que eram
proibidos, pela lei da igreja, de contrair matrimônio, ainda que, muitas vezes,
lhes faltasse o dom sobrenatural do celibato. Lutero disse que deveriam viver
como esposos e esposas junto das pessoas que amavam. Muitos sacerdotes
necessitavam de uma saída legítima para seus desejos sexuais, bem como da ajuda
de uma mulher nos cuidados com a casa. Lutero disse que, ao contratar
governantas para cuidar da casa, a igreja “ajuntava palha e fogo e proibia que
eles fumegassem ou queimassem! ”. Assim, encorajava os sacerdotes, os monges e
as freiras a se casarem, a despeito das severas penas que as autoridades
romanas frequentemente impunham sobre eles.
Lutero insistiu com um
de seus jovens estudantes de teologia: “Não podes ficar sem esposa e permanecer
sem pecar. Afinal, o casamento é ordem e criação de Deus. Portanto, não é ideia
de Satanás quando um homem deseja casar-se com uma moça honrada, pois Satanás
odeia esse tipo de vida. Assim, tome a ventura em nome do Senhor e na força de
sua bênção e instituição! ”.
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Publicado originalmente em: Ministério Fiel
Nota do Blog: Em consonância com as normas de reprodução da publicação original, mantive o título da postagem. Porém, considero que seria mais adequado intitular A Bondade e Honra do Matrimônio.
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Publicado originalmente em: Ministério Fiel
Nota do Blog: Em consonância com as normas de reprodução da publicação original, mantive o título da postagem. Porém, considero que seria mais adequado intitular A Bondade e Honra do Matrimônio.
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