POR QUE DEUS USA PESSOAS COMO NOÉ?

O Sacrifício de Noé - Daniel Maclise.
      Em 2005, a revista  Fides Reformata¹, publicou um artigo intitulado Por que Deus usa pessoas como Sansão?², de autoria do Rev. Daniel Santos Jr.,  Fazendo uma leitura de Juízes 15 e levando em consideração estudos em crítica literária do Antigo Testamento, o texto me ensinou e cativou-me pra algo que já havia vislumbrado ao examinar as Escrituras: a maravilhosa graça de Deus prevaleceu e sempre prevalecerá sobre as teimosias e idiossincrasias dos personagens bíblicos e de nossas vidas. Eu sei e você também sabe, nenhuma roda é inventada aqui, mas seguindo em uma linha diferente do pastor Daniel, minha proposta não é um artigo ou exegese e sim um comentário simples, uma devocional, tomando emprestado a pergunta título do referido texto da Fides aplicando-o a Noé.

      Noé é apresentado em Gênesis de maneira sensacional. Tal qual Jó, o primogênito de Lameque, num claro contraste entre a maldade do homem que se havia multiplicado na terra (cf. Gn 6:1-7), é apresentado como homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos (v.8). Como se diz, Noé é "o cara"! Dono de qualidade morais escassas, é dito a seu respeito, no início da narrativa diluviana, o que havia sido dito sobre seu bisavô, Enoque: ambos andavam com Deus (cf. Gn 5:24; 6:9). É como se o terceiro movimento da Nona Sinfonia de Beethoven passasse a ser executado nesse momento. Tranquilo e sereno, o adagio prepara o terreno para o último e intenso movimento. Tudo corre perfeitamente bem, parece puramente inteligível que Deus tenha escolhido um camarada tão bom para a tarefa de repovoar a terra e ser alvo do pacto do SENHOR. Diferente de Sansão, Noé não despreza um voto (do nazireado), nem tem a vida promíscua que nosso cabeludo juiz apresenta. Noé é um pai de família que teme ao Senhor (Gn 6:22).

      Vagas se arremessam contra a arca, Noé, sua família e os animais são preservados no interior da mesma. Pouco mais de 370 dias se passam até que todos os ocupantes finalmente possam pisar em terra firme. Tudo termina (ou se inicia) com um culto prestado a Deus (Gn 8:20), Deus comunica seu pacto, estabelece o sinal dessa aliança (8:21-9:17) e tudo segue de vento em popa. Ao contrário do que se prega nos tristemunhos, a narrativa, que não é exaustiva, não se apega a desvios escandalosos e práticas hediondas de Noé. Lido rápida e superficialmente, a história parece ter como personagem central esse homem tão bom. No finalzinho do belíssimo capítulo 9 (vv. 20-27), Noé toma um porre e fica nu dentro de sua tenda, descortinando o personagem central de toda narrativa: Deus. O SENHOR tem uma aliança com os Seus, e diferente de qualquer pacto ou concerto, Ele o faz unilateralmente. É Ele quem estabelece, Ele é o fiador. O homem, por mais íntegro que seja ou aparente ser, não tem jamais como estabelecer um pacto com Deus nos moldes de aliança entre iguais, uma espécie de sociedade. Não se trata de Noé, e sim o Deus de Noé! Diferente de Sansão, que havia sido levantado por Deus em face a completa apatia vocacional dos homens de Judá, Noé era "perfeito demais" para executar o intento de Deus. Ambos pecaram careciam da graça de Deus (Rm 3:23). O Deus de Noé faz os Seus descansarem na certeza de que o pacto com Ele não depende de homens. Aleluia!

_______________________
¹ Fides Reformata é uma revista editada pelo CPAJ - Centro Presbiteriano Andrew Jumper, São Paulo, criada em 1996 para ser um fórum no qual temas teológicos, exegéticos, históricos, éticos e pastorais pudessem ser discutidos e apresentados ao público leitor de língua portuguesa.
²Disponível em PDF aqui: Por que Deus usa pessoas como Sansão?

Comentários