Uma Defesa do Batismo Infantil


Por Bradney Lopez*



      Por muito tempo eu pensei que os reformados não possuíssem base bíblica para sustentar sua crença no pedobatismo. Mas sendo cada vez mais confrontado com a Palavra, eu tinha que estudar e aprofundar minhas crenças acerca do batismo com a esperança de que um livro ou alguém me levasse de volta a ser convencido da singularidade daquela posição que viria a ser destronada. Não é minha intenção principal com este artigo convencer o leitor da nossa posição, mas esclarecer que o batismo de crianças é baseado unicamente nas Escrituras.

Para entender o pedobatismo é essencial contemplar Deus em seu caráter de Deus da aliança.

Pacto das Obras

Vamos para o início de tudo, Gênesis. No jardim do Éden, podemos ver a imagem completa do pacto das obras, o primeiro pacto feito com o homem no qual Deus promete vida a Adão e sua posteridade sob a condição de obedecer perfeitamente Seu comando. Vemos Deus colocando os termos do pacto e definir a árvore como um sinal do mesmo (Gn. 2: 17-18). Uma vez que Adão desobedeceu ao mandamento de Deus, não só ele foi afetado, mas o pecado entrou na humanidade por todos os séculos seguintes até a vinda de Cristo (Rm. 5:12). É muito claro que Deus castigou Adão sozinho, mas todos os seus descendentes foram afetados. E este é o caráter de Deus, eu quero enfatizar, vemos por todo o Antigo e Novo Testamento, a aliança que Deus faz não só com um homem, mas com todos os seus descendentes. Também é necessário mencionar que após a queda, em vez de Deus nos deixar na morte para pagar pelo pecado, Ele nos faz objeto de sua graça. No protoevangelho (Gn. 3:15), vemos esta graça revelada. Deus mesmo antes da queda exige que o homem seja justo, e se isso for impossível ao homem, Deus enviaria um intercessor para adquirir justiça pelo homem, para ser o mediador Jesus, o Filho de Deus. Esta vontade de Deus em direção a humanidade para a salvar da perdição é chamada de pacto da graça (grifo meu). Desde então, todo pacto é pela graça soberana de Deus.

O Pacto Abraâmico

Assim como fez com Noé (Gn 9: 8.), novamente vemos Deus fazendo uma aliança não só com o indivíduo, mas com todos os seus descendentes. Em Gênesis 17: 7 vemos Deus fazendo uma aliança com Abraão e seus descendentes, e como qualquer acordo, também teve seu sinal, que foi a circuncisão. Nos versículos 11 e 12 diz: " Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe¹".  Que conhecimento tinham estes filhos de Deus? Nenhum! Mas pela fé de Abraão que foi imputada como justiça (Gn 15: 6) seus descendentes se tornaram parte do pacto. Então, a circuncisão é o sinal externo imposto a cada criança no seio do povo escolhido de Deus. Essa prática vigorou até a vinda de Jesus, em torno de uns dois mil anos.

O sinal no Novo Testamento

Como mencionado anteriormente, a circuncisão do Antigo Testamento era o sinal externo do povo de Deus, mas no Novo Testamento ele não foi necessário porque Cristo derramou seu sangue, então todo o derramamento semelhante era desnecessário. Paulo sabia, e expõe claramente que esta prática havia sido abolida (Gl. 5:2). No entanto, o sinal da aliança não foi completamente removido, mas foi substituído pelo batismo. O teólogo Pierre Marcel explicou com precisão Colossenses 2: 11-12, dizendo que “a circuncisão de Cristo, isto é, do coração, representada pela circuncisão na carne, é cumprida pelo batismo, ou seja, é isso o que ele significa”. Nós interpretamos através das palavras de Paulo nestes versos que sua ênfase é sobre a circuncisão que uma vez serviu como um sinal para o pacto [no Antigo Testamento], agora não era mais necessário, mas pelo batismo os colossenses estavam completos em Cristo, sendo agora esse o sinal externo da circuncisão interna (circuncisão do coração), a ser praticada pelos novos crentes. O sinal da aliança não pertence a um grupo étnico como foi com o povo de Israel, mas agora é estendida a todos aqueles que creem em Jesus sem deixar de fora seus filhos.

A continuidade do Pacto

Em Atos 2, podemos ver a pregação de Pedro, evocando as promessas da aliança e seu cumprimento. Tanto é assim que no verso 39 do mesmo capítulo, Pedro faz uma citação de Gênesis 17: 7, onde o apóstolo estende a promessa aos filhos daqueles que recentemente haviam se arrependido, mostrando que as crianças nunca foram excluídos do pacto. O apóstolo Paulo afirma em Gálatas 3: 7 a continuidade da promessa feita a Abraão que nós crentes, participamos (Gl 3:29) e que não foi revogada por Deus em qualquer momento (Gl 3:17). Você pode entender claramente que o pacto e o sinal não foram cancelados, mas ainda continua a aliança e, como expus no parágrafo anterior, o sinal foi substituído.

Em Atos 16:33, vemos Paulo e Silas batizando o carcereiro e toda sua família. Esse mesmo padrão é observado com Lídia, quando ela e sua família foram batizadas (Atos 16: 14-15.) Caso semelhante de Crispo, onde ele e toda a sua família creram e foram batizados (Atos 18: 8). Você pode pensar que os textos não mencionam as crianças, mas deixe-me lembrá-lo que na alimentação dos cinco mil, crianças estavam presentes e não foram contadas, mas estavam lá e comeram (Marcos 6: 30-40). Três mil pessoas, das quais as crianças não foram contadas, mas certamente lá estavam e foram batizadas (At. 2:41) após a pregação de Pedro. Tomando em consideração que esta era uma cultura que buscava intencionalmente a procriação, fato que nos limita severamente a descartar com segurança a presença de crianças, podemos inferir que há uma grande possibilidade de que houvesse crianças presentes.

É pela fé de seus pais que crianças entram no pacto e recebem o sinal como Isaque, através da fé de Abraão, foi circuncidado mesmo sem saber quem era Deus ou ter realizado uma profissão de fé. Seria uma distorção que eu, como pai cristão responsável, deixe meu filho, enquanto vivesse em minha casa e sob meu cuidado, crer em outro deus que não seja o único Deus verdadeiro em quem eu creio e sirvo. Sou mais obediente ao seguir o mandamento de Deus (Dt. 6: 3-9) de instruí-los em Sua Palavra, porque certamente estão sob a Sua promessa. É contraditório que só eu esteja sob o senhorio de Jesus e dentro da aliança, mas para com os meus filhos seja diferente, ao exclui-los do mesmo e trata-los como pagãos. Paulo nos apresenta isso precisamente em 1 Coríntios 7:14, onde ele se refere à fé do pai ou da mãe santificando o seu filho. O vocabulário usado nesses versículos é do Antigo Testamento, onde o incircunciso era imundo mas o circuncidado era santo. Nossos filhos através do batismo são separados para Deus assim como a Igreja é separada, e estão sendo criados em um sistema diferente desse mundo. Vale ressaltar que, assim como a circuncisão não regenerava ninguém, nossos filhos não são regenerados pelo batismo, mas são contados como parte da igreja local (Ef. 6: 1).
Se para mim é inaceitável que meus filhos não entrem na aliança, baseado na revelação das Escrituras, quanto mais teria sido para os judeus²! Depois de 2000 anos, incluindo crianças no pacto e dando-lhes o sinal, agora elas ficariam de fora? Isso teria causado um rebuliço, que sem dúvida constaria nas páginas do Novo Testamento. Imagine Pedro depois de seu discurso, explicando aos milhares [de judeus que ali estavam ouvindo-o e converteram-se ao Evangelho] que seus filhos estavam fora da aliança. Só uma revelação divina poderia interromper tal  mandato 
antigo.

Conclusão

Combatendo a mente individualista que separa cada membro de uma família como um ente separado (mesmo desde o nascimento) e tentando preservar a aliança eterna que afeta as gerações, nós reformados batizamos nossos filhos em obediência à única regra de fé e prática, a Palavra de Deus. Finalmente, lhes estendo o mesmo conselho que um professor me deu quando eu lhe expressei que eu estava lutando com minha posição sobre o batismo infantil, ele me disse: “Estude arduamente a respeito [do assunto] na Palavra”.

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¹ N.T.: Foi utilizada a Almeida Revista Atualizada em detrimento da Reina Valera, principal versão em língua espanhola.
² N.T.: Aqui o autor refere-se aos judeus que se converteram ao cristianismo no século I.
*Bradney Lopez, é pastor da Igreja Reformada Unida em Arroyo, Porto Rico, onde reside com sua esposa Eileen e seus quatro filhos José Daniel, Jireh Milagros, Isabela Nissi e Penelope Rohi. Você pode encontrá-lo no Twitter: BradneyLópez.
Tradução: Henrique Luna
Original: Una Defensa del Bautismo Presbiteriano (The Gospel Coalition/Gospel Coalición)

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