FITAFUSO E O CRISTIANISMO PAGÃO | Por Sandro Baggio



Por Sandro Baggio*

No livro clássico Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, de C. S. Lewis, o diabo Fitafuso troca correspondências com seu jovem sobrinho Vermebile, dando-lhe instruções sobre como derrubar os cristãos. Fitafuso foi personagem fictício no livro de Lewis, mas seu tipo é real e ele foi apontado por Jesus como sendo o enganador mor.

Há alguns anos um amigo me recomendou a leitura de um livro chamado Cristianismo Pagão[1] que ele havia lido e queria saber a minha opinião sobre o mesmo. Como não gosto de opinar sobre algo que não li, decidi ler Cristianismo Pagão e também outros dois livros pelo mesmo autor: Reimagining Church (em 2008) e From Eternity to Here (no ano passado) [2]. Minha resposta depois de ter lido o primeiro livro foi de espanto sobre como qualquer pessoa familiarizada com o NT podia se deixar levar pelos erros cometidos pelos autores em algumas de suas afirmações. Creio que as intenções dos autores podem até terem sido boas (principalmente vindo de um contexto norte-americano), mas tal como a parábola oriental no prefácio do livro The Monkey and the Fish, de Dave Gibbons, a igreja precisa mais do que de boas intenções.

Esta semana[3] Mark Driscoll publicou uma boa crítica sobre Cristianismo Pagão em seu site The Resurgence. Driscoll cita bastante a crítica feita por Ben Witterington em junho e julho de 2008 sobre o mesmo livro. Ambas críticas fornecem amplo material (e referências) para uma avaliação sólida e saudável sobre o Cristianismo Pagão.

Driscoll corretamente aponta que:

O pior aspecto do livro é sua suposição de que a igreja institucional é o grande inimigo da igreja. Institucionalismo não é o inimigo da igreja. O problema mais significativo das igrejas, quer institucionais ou orgânicas, é considerar qualquer coisa menos que Satanás, pecado e morte como o grande inimigo da igreja. Isso resulta na minimização do Evangelho. Jesus não veio para libertar a humanidade das algemas das instituições, mas de Satanás, do pecado e da morte. Este livro [Cristianismo Pagão] foi edificado sobre uma questão secundária de prática e governo na igreja, em vez da questão central da tarefa da igreja, a proclamação do Evangelho. Não há dúvidas de que deve haver críticas sobre como a igreja “é igreja”, mas muito da crítica que Cristianismo Pagão faz da igreja contemporânea é sobre questões secundárias que são passíveis de debate (tanto historicamente como biblicamente) na melhor das hipóteses e totalmente falhas e falsas na pior das hipóteses. Não se engane; a igreja precisa de um revolução e reforma, mas não do tipo que os autores estão convocando. A igreja precisa desesperadamente de uma revolução completa do Evangelho e da centralidade de Deus.

Esta mesma visão quase que paranoica da instituição tem sido anunciada aqui no Brasil também. Trata-se errar o alvo. Há causas mais importantes como apontou Driscoll, em que a Igreja precisa enfocar. Talvez essa fobia da instituição seja até uma estratégia do Fitafuso para desviar a atenção dos seguidores de Cristo dos reais inimigos contra os quais eles deveriam estar lutando.

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Sandro Baggio: é missionário do Steiger International servindo junto ao Projeto 242 como pastor-mentor, escreve no blog SandroBaggio. O texto acima é de sua autoria e pode ser encontrado originalmente aqui.

Notas do Blog:

[1] Cristianismo Pagão, de Frank Viola e George Barna. O argumento principal do autor é que o cristianismo foi influenciado pelo paganismo grego e que este entrou pelas portas da igreja através dos teólogos gentílicos que em face de suas tradições helenistas, incorporaram na liturgia cristã aspectos dos cultos pagãos gregos. Desta forma, elementos como o sermão, o clero, o púlpito, as vestes clericais, os corais, tudo, enfim, fora influenciado pelo helenismo e, portanto, é de fundo pagão e, consequentemente, inadequado para a Igreja de Cristo. Tudo isso tem se tornado justificativa para os chamados desigrejados deixarem de congregar, como era costume de alguns desde os primórdios do cristianismo (cf. Hebreus 10.25). 
[2] Ou seja, em 2009, já que essa publicação originalmente foi feita em 2010.
[3] Publicação original feita em fevereiro de 2010.

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