AS AGRIDOCES CADEIAS DO PERDÃO


Talvez ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você, tanto como pessoa quanto como cristão. (Filemom 15-16 NVI)

            Para muitos, quem perdoa esquece. Talvez porque o texto “não me lembrarei mais dos seus pecados. ” (Jeremias 31:34) seja mal interpretado. Poderia o Deus onisciente esquecer alguma coisa? Ele se lembrou por vezes dos pecados da peregrinação (cf. Êxodo 17.7 e Salmos 95.8-9; Hebreus 3.8-15, 4.7). O certo é que Ele não leva mais em conta os nossos pecados porque eles foram pagos na cruz. Se esquecemos o pecado, não nos lembramos do perdão (2 Pedro 1.9). Lembrando, podemos corrigi-lo e aprender as boas obras (Apocalipse 2.5).

            O perdão é o instrumento de Deus para a reconciliação e a restauração. Mas, continua sendo o mais difícil de todos os bens e precisa ser motivado. Por isso, o apóstolo Paulo revelou a Filemom o propósito de Deus para o perdão: talvez Onésimo tivesse sido afastado dele temporariamente a fim de que, depois, o retivesse para sempre. Depois de quê? Certamente depois do perdão. Assim como o arrependimento é a volta do ofensor, o perdão é o retorno do ofendido. O ofendido se arrepende da justiça própria, da ira, da inimizade, do desejo idólatra de “ser Senhor”, e atribui ao ofensor a bênção que ele mesmo recebeu de Deus: o perdão.

            O perdão eleva o ofensor à altura do ofendido. Assim como em Cristo os pecadores são feitos filhos de Deus (João 1.12), também em Cristo o ofensor é feito irmão do ofendido. “Já não como servo”, diz Paulo, “mas como irmão amado”[1] – na carne e no Senhor! O perdão é o elemento transformador do nosso caráter. O perdão nos une em agridoces cadeias que nos fazem provar o amargor da dor, do dano e do preço pago, mas nos faz sorver a doçura inenarrável da reconciliação. O Rev. Wadislau Martins Gomes, em seu As Agridoces Cadeias da Graça (Ed. Monergismo)[2] diz:
“Quem pastoreia, investe a vida na formação de Cristo nos membros da igreja. Quem casa, investe a vida na formação da maturidade conjugal na entrega e na submissão a Cristo. Quem tem filhos, investe a vida a transformá-los em irmãos, para que aprendam em Cristo a serem servos como somos. Jesus disse que qualquer que recebesse um dos seus, a ele receberia (Jo 13.20). É um investimento de vida. ”

Investimento. Ponto final.





[1] Algumas traduções como a ARA utilizam “caríssimo”, o que também traduz muitíssimo bem a bela expressão αγαπτος (agapetos).
[2] Excelente livro, temporariamente fora de estoque da Monergismo. Vale a pena solicitar nova remessa à editora.

Comentários

Postagens mais visitadas