NÃO TOMARÁS O NOME DO SENHOR EM VÃO | Iain Campbell
Por Iain Campbell
A ética de Jesus é a ética dos Dez
Mandamentos. Ele ensinou o seu povo a viver por essa regra e ele mesmo o fez.
Ele é a própria encarnação da obediência a Deus; em nenhum outro lugar os Dez
Mandamentos estão personificados e manifestados em plenitude como estão na vida
de Jesus.
Assim como a lei de Deus exige que não
tomemos o seu nome em vão, também Jesus nos ensina a orar: “Santificado seja o
teu nome” (Mateus 6.9). A oração expressa o nosso desejo de guardar o terceiro
mandamento. Ela também expressa a nossa necessidade da graça de Deus para esse
fim. A oração é um reconhecimento de que o próprio Deus provê para nós aquilo
que ele exige de nós.
Na Escritura, o nome de Deus é um meio de
ele revelar a si mesmo. Bem no início, em Gênesis 4.26, há uma referência a
pessoas invocando o nome do Senhor – não porque Deus lhes houvesse dito o seu
nome pactual, mas porque ele falou e revelou a si mesmo. Depois, contudo, Deus
de fato tornou o seu nome conhecido. Ele se revelou a Moisés como o grande “EU
SOU” (Êxodo 3.14) e declarou haver levantado Faraó para que o seu nome – a
revelação da sua justiça e poder – fosse proclamada por toda a terra (Êxodo
9.16). Depois, o templo foi construído “ao nome do SENHOR” (1 Reis 3.2; 8.17) e
aquele nome se tornou o objeto da adoração de Israel à medida que eles louvavam
o nome de Deus por meio de cânticos (Salmo 69.30; 122.4).
O nome de Deus é tão importante ao ponto
de ser solenemente protegido nos Dez Mandamentos por uma proibição de que se
tome seu nome em vão (Êxodo 20.7). A violação dessa lei é uma ofensa capital:
“Aquele que blasfemar o nome do SENHOR será morto” (Levítico 24.16). Levítico
cita uma variedade de exemplos do que esse abuso do nome divino inclui:
oferecer os filhos a Moloque (18.21), jurar falsamente (19.12), os sacerdotes
cortarem as extremidades da barba (21.5-6). Essa grande variedade de violações
ao mandamento mostra que tomar o nome do Senhor em vão envolve não apenas
falá-lo de modo errado, mas inclui vivê-lo de modo inadequado.
Era o nome do Senhor que deveria ser
posto “sobre” o povo de Israel, por meio da bênção araônica (Números 6.24-27).
O nome não era apenas um título ou epíteto, mas incluía o caráter e a
sublimidade de Deus revelados para a salvação e a santificação do seu povo.
Pelo nome de Deus eles são salvos e pelo nome de Deus eles são separados.
Esses temas são evidenciados na vida e na
obra de Jesus. Ele veio à terra, por nós e para nossa salvação, em nome do Pai
(João 5.43; 10.25). Ele viveu para glorificar o nome de Deus (12.28; 17.4) e para
revelá-lo (17.6). Em nome de Deus ele havia preservado o seu povo e naquele
mesmo nome eles seriam guardados eternamente (17.11-12). O nome de Deus, posto
sobre o seu povo pelo batismo (Mateus 28.19), seria o nome pelo qual o Espírito
Santo viria para confortá-los e ouvir-lhes as orações (João 14.26; 16.23). É o
nome de Deus que assegura a vida eterna a todos os que creem (20.31).
João Calvino está correto, portanto, ao
comentar acerca do terceiro mandamento que “[ele nos ensina] a ser ponderados
de alma e língua, para não falarmos do próprio Deus e de seus mistérios senão
de modo reverente e muito sóbrio, para que, ao avaliar suas obras, não
concebamos senão o que é digno de honra diante d’Ele” (Instituição 2.8.22).[1]
Esse senso de honra vinculado ao nome de Deus é o que caracteriza uma vida de
santidade e uma adoração genuína. Tanto em nosso serviço como em nossa
adoração, devemos pensar nas coisas de Deus com adoração e reverência, sabendo
que o fato de Deus haver se revelado a nós pelo nome é, em si mesmo, um imenso
ato de graça.
Em seu estudo dos Dez Mandamentos, o
famoso puritano Thomas Watson cita doze maneiras pelas quais tomamos o nome de
Deus em vão. Entre elas estão: usar o nome de Deus com irreverência; professar
o seu nome, mas não viver de acordo com a nossa profissão; adorá-lo
externamente, mas não com o coração; usar erroneamente a sua Palavra;
descumprir nossas promessas; e falar sem cuidado pela honra divina. É uma
análise impressionante, que não pretende controlar as minúcias do nosso comportamento,
mas mostrar-nos como o terceiro mandamento permeia o todo da vida.
Ao nomear a si mesmo, Deus não apenas
descortina quem ele é, mas o faz de tal modo que possamos conhecê-lo
pessoalmente. Viver de acordo com o terceiro mandamento é reconhecer e
confessar que Deus merece a mais alta honra; que ele nos separou ao pôr o seu
nome sobre nós; que estaríamos completamente perdidos não fosse o fato de, por
causa do seu nome, ele nos guardar e proteger; e que ele nos chama a viver
segundo o exemplo de Jesus, glorificando a Deus na terra. Nós somos os
portadores do nome de Deus; que a nossa conduta demonstre isso.
______________
Notas:
[1] N.T.: João Calvino. A instituição da
religião cristã. Tomo I, livro II. Trad. Carlos Eduardo de Oliveira. São Paulo:
UNESP, 2008, p. 368.
Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão:
Vinícius Musselman Pimentel
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